sexta-feira, 23 de novembro de 2012

HOLODOMOR - Parte III

"Não deixaremos apagar a vela da memória"
 
Notícias da Ucrânia

 
 
Holodomor dos anos 1932-1933

Continuação

Mafra Savchuk teve onze filhos. Dois morreram de fome, e não ficou nem túmulo, nem cruz. As pessoas desesperadas, comiam qualquer coisa. Nos campos catavam espigas de trigo após colheita, sementes de ervas daninhas, folhas, raízes, que misturavam com resíduo ou farelo de trigo e assavam biscoitos.

Hanna Serhiivna Babichenko estava com 13 anos. Era caçula de oito filhos. O pai e um irmão morreram no início da fome. Naquele ano a colheita foi boa, tanto de cereais como de verduras. Todos se alegraram, mas por pouco tempo. Pela aldeia andava uma comissão de ativistas locais e levava os grãos, a batata, a beterraba e até a roupa. Era preciso esconder tudo no sótão ou enterrar. Mas, até o inverno os "ativistas" desenterraram tudo. Não havia o que comer, as crianças íam ao campo juntar as apodrecidas beterrabas, batata congelada, ervas. Devido a fome as pessoas enlouqueciam, aconteciam casos de canibalismo. Quando numa jovem família o marido ficou completamente debilitado, a esposa matou-o com machado, e sua carne cozinhava e alimentava o filho. O menino reviveu, animou-see e, casualmente, contou aos vizinhos sobre o acontecido. Vieram os milicianos e levaram a infeliz mulher, e ela nunca mais foi vista. Uma família vizinha deu abrigo ao menino e em seguida eles viajaram para Odessa. Quando adulto, ele vinha a aldeia e lembrava o horror vivido.

E, numa outra família, inicialmentee morreram os pais e a filha menor. A filha maior escondeu o corpo de sua irmã menor no sótão e comia aos poucos. Certa vez os representantes do governo local sentiram o cheiro da carne e encontraram uma mão na panela. Não fizeram nada à jovem, mas os restos do cadáver levaram ao cemitério.


 
Ela trazia da escola uma pequena caneca de "balanda" (sopa rala com pouquíssimos ingredientes, sem gordura - OK), para dividi-la com a mãe doente. A mãe ficava mais na cama porque as forças lhe faltavam. Graças a Deus, já chegava a primavera. Hania colhia ervas verdes. A mãe arrastava-se até o fogão e preparava bolinhos dessas ervas. A sopa rala da escola e o capim da primavera salvaram a mãe e a filha caçula. Mas os três mais velhos morreram. Hania tinha doze anos e lembra bem como enterraram os irmãos e a irmã, e como para não desampará-la, a mãe esforçava-se pela vida. À noite, Hania sentia muita sede e pedia à mãe para alcançar-lhe água. A mãe apenas cochichava que não tinha forças para levantar. Então Hania andava de quatro aré o balde, para matar a sede e a fomem.

Vasyl Artymovych Burian, nascido em 1918 conta: À nossa casa veio um grupo de pessoas com o responsável pelo armazenamento de produtos comestíveis. Levaram tudo: todos os produtos, vacas, ferramentas de trabalho, e até os restos da polenta sobre a mesa.

No outono de 1932 não havia folhas nas árvores na aldeia, nem gatos, nem cães - tudo comeram os famintos. Algumas pessoas ainda tinham alguns haveres e íam a feira para vender mas, pelo caminho, frequentemente eram atacadas e mortas.

Minhas irmãs morreram. Eu me salvei porque comia bolinhos de azeda e outras ervas. Akulyna Marchuk tinha 15 anos em 1933. Ela lembra bem como, de casa em casa, andavam brigadas especiais. Eram pessoas da localidade, membros do conselho da aldeia e alguns membros do "Komsomol" (União de Jovens Comunistas). Procuravam grãos na casa, no sótão, na dispensa, no paiol, até na rua, no chiqueiro e até dentro do colchão. Examinavam o assoalho, o quintal e o pomar, se não havia terra recentemente revolvida. Não tendo o que comer, as pessoas faziam pão com os resíduos do trigo e capim, faziam um caldo de plantas do mato. Comiam brotos de árvores. Na aldeia desapareceram os cavalos, as ovelhas, vacas, galinhas e marrecos, pegavam gralhas e pardais. Sob a neve cavavam bolotas e assavam algo parecido com o pão, acrescentando resíduos de trigo ou batata podre. Acontecia até canibalismo.

Hanna Terentiivna Popova diz que os irmãos e irmãs maiores morreram de fome. Ela e a irmã menor, por serem crianças ganhavam mais comida e sobreviveram. Comiam tudo o que era possível, faziam bolinhos de espinafre e outras folhas, no inverno ralavam o sabugo de milho (sem grãos) e comiam esta farinha.

A aldeia que conservava as antigas tradições, transformou-se em vazio decadente. As pessoas se animalizavam, sentiam o peso do medo, os bons costumes foram substituídos pela crueldade e ódio. Uma família sobreviveu apenas porque convidava pessoas para comer em sua casa e, não as deixava sair, matava e comia...

Maria Mykolaivna Shlikar diz: - Na aldeia vizinha vivia uma família numa casinha pequenina, e como todos , passava fome. Logo as pessoas perceberam que suas crianças sumiam próximo a esta casa. E, então, tornou-se claro que ali praticavam canibalismoo.

Varvara Ivanivna Shtyrba conta como era difícil a vida para uma grande família. Pão o Kholkhoz (fazenda coletiva) não dava nos dias de trabalho. No campo alimentavam os trabalhadores com uma sopa rala de "makukha" (feita com sementes oleaginosas depois de extraído o óleo - OK) ou "derti" (trigo moido grosseiramente para animais - OK), e no lugar do pão davam pequenos bolinhos de soja. No outono as pessoas ainda se aguentavam enquanto havia batatinha e beterrabas. Já no início da primavera todos inchavam, andavam pelo campo oscilando. Quem caía, frequentemente já não levantava. Os campos eram supervisionados pelo guarda. A ele as crianças imploravam algumas espigas de trigo, e quando ele não dava, alguns homens o afastavam, e os outros pegavam as espigas.

As aldeias que não conseguiram entregar todos os produtos requisitados constavam das "listas negras" e contra seus habitantes aplicavam-se medidas excepcionais. Maria Shvets foi levada aos escritórios centrais e perante todos obrigada a dizer: "Eu sou inimiga da nação, deixei apodrecer o pão, mas não entreguei ao estado". Mas ela disse: "Eu não sou inimiga da nação, eu não deixei apodrecer o pão, se eu o tivesse, eu o entregaria ao Estado". Por isso ela apanhou e foi jogada para fora.

Afanasii Herasymenko e sua esposa trabalhavam na terra, como todos os lavradores. Eles tinham 6 filhos. Levaram tudo e ainda exigiram mais produtos. Como não havia, eles foram tachados "Korkuli" (ricos) que frustram a execução do plano estatal. E enviaram uma brigada de 8 pessoas que queimou a casa e toda a família ficou sob o céu. Todos morreram de fome.

Quem ajudava os funcionários do governo na retirada dos bens dos aldeões? Geralmente eram os preguiçosos que não queriam trabalhar, andavam maltrapilhos e famintoss, viviam numas casas cinzas que pareciam estrebarias. Quando os funcionários retiravam os bens das pessoas (rozkyrkuliúvale) os "auxiliares" arrancavam sua roupas e botas e vestiam as roupas melhores dos aldeões.

E os exemplos de desespero não acabam.
... Natália Melnyk não consegue comer linguiça desde 1933. Porque neste ano conseguiu um pedacinho e nele encontrou dedinhos de criança.
... o aldeão Maksym mata e come a mãe e a filha e depois uma meninha de três anos.
... outra mãe matou seu filhinho e obrigava a filha Mariika, de catorze anos, comer o coração. Posteriormente também quis matar Mariika. A vizinha acudiu. Mariika falava sobre isso a seus professores Kostiantyn Bask e Viktoria Sidletskyi. Contava e chorava.

Algumas pessoas foram presas, outras fuziladas, e as demais caminhavam para a construção do propagado, pelo Estado Soviético, socialismo. Quantas delas, devido ao estado da permanente fome, ainda possuíam o domínio pleno da própria consciência?

Continua...

Tradução: Oksana Kowaltschuk
Foto formatação: AOliynik

Um comentário:

  1. Bom dia,
    Parabéns pelo blog.
    Esse foi o Holocausto dos comunistas, que a imprensa esbirra do esquerdismo Bildeberguiano não noticia. Triste e horrível marca da história não so europeia, mas mundial. Sãos os mortos entre os mais de 100 milhões, que o comunismo ceifou.
    Comunistas, o inferno os têm recebido.

    ResponderExcluir