segunda-feira, 18 de julho de 2011

Casos Estrepitosos: Um país da impunidade

Caro Leitor:
"Todos são iguais. Alguns são mais iguais que outros".
O Editor



Ukrainska Pravda (Verdade ukrainiana), 15.07.2011
Viktoria Siumar


"- Papai, papai,
E serei eu também um miliciano?
- Não filho. Por enquanto treine com meninas...”

Piadas como essa sobre nada engraçada realidade ukrainiana pululam hoje na rede mundial. O caso do Landik somente atualiza o antigo e muito conhecido problema dos "majores", seu estilo de comportamento e, sobretudo, a impunidade.

E isto revela, de fato, um grande problema global: em 20 anos, Ukraina não conseguiu formar um sistema de governo, onde haja apenas um princípio fundamental: "uma lei para todos".

Políticos e pessoas famosas que, em diferentes momentos foram parar atrás das grades, foram percebidas como vítimas de jogos políticos. Dizem, que no período do presidente Kuchma (1994-2005) até existia uma lei, não escrita: "não toque em mulheres e crianças.”

No entanto isto resulta em desvio quando estas mulheres e crianças tornaram-se uma distinta camada da sociedade, para a qual não há nenhuma lei escrita.

Durante os últimos anos reuniram-se dezenas de casos, quando o país teve todas as oportunidades para convencer-se - não há justiça. Pelo menos aqui, na Ukraina.

Esta é uma lista, longe de completa, como prova dessa tese.


Roman Landik
 Em 4 de julho de 2011 Roman Landik espancou uma moça no restaurante "Bacarrat" em Luhanks.
A Vítima foi hospitalizada. Foi aberto inquerito criminal [1]



Dmytro Chernushenko
 Dmytro Chernushenko - filho do presidente do Tribunal de Apelação de Kyiv.
Em 07.07.2011 Dmytro Chernushenko, bêbedo, organizou uma briga em boate "Ibiza", em Odessa.



Natália Solovey
Natália Solovey - assistente de juiz, em Kyiv.
Em 24.06.2011 - Natália Solovey, dirigindo um Mercedes ML, atropelou e matou uma mulher que faleceu no local.
A motorista foi liberada sem questionamento.



Rodion Haisynskyi
 Em abril de 2011, Rodion Haisynskyi, filho do prefeito de Kharkiv, dirige a uma velocidade de 260km/hora.
A transgressão não foi registrada.



Ihor Haponiuk
 Ihor Haponiuk - filho do pró-reitor da Academia de Odessa.
Em 27.03.2011 Ihor Haponiuk na sua BMW atropelou três pessoas. Uma morreu. O caso criminal foi registrado.




Local do acidente causado por Dmytro Kravets
 Dmytro Kravets - filho do deputado do Conselho de Odessa.
Em 1108.2010 Dmytro Kravets atropelou três homens, um deles morreu no local.
Foi aberto processo criminal. Sem decisão.



Dmytro Karatumanov
 Dmytro Karatumanov - filho de deputado de Kharkiv.
Em 31 10.2008 Dmytro Karatumanov atropelou e matou um estudante de 19 anos. Fugiu do local.
O caso foi fechado - motorista declarado inocente.



Vitali Fainhold
 Vitali Fainhold é filho de deputado de Simferopol.
Em 16.09.2008 atropelou e matou um motociclista de 25 anoss. Em liberdade condicional por dois anos.



Feliks Petrocian
 Feliks Petrocian - filho de deputado da Província de Odessa
Em 13.01.2008 matou uma pessoa e danificou 11 veículos. Estava bêbado. Foi considerado inocente.



Lugar do acidente causado pelo enteado do Firtash [2]
 Serhei Kalinovski - enteado de Dmytro Firtash.
Em 30.05.2007 Serhei Kalinovski, numa BMW bateu num Lada e matou duas pessoas. A questão foi aberta, o motorista fugiu do país.


Ainda, no contexto dos "majores" vale mencionar Oles Dovhei, claramente envolvido em várias maquinações de terra, do Conselho de Kyiv, como secretário deste órgão, mas que, ao contrário do presidente da Comissão da terra Yevlakhov, não está atrás das grades. Não seria porque, tanto sua família, como família de sua esposa, tem relação direta com a força política dominante?

O que pode pensar e sentir um cidadão comum, observando todas estas histórias de crimes e, vendo os causadores safando-se da punição?

Poderá ele acreditar no sistema judicial? E pode ele acreditar que a justiça no país é justa, não uma seleta repressão ou castigo?

Como, depois disso, acrditar que Lutsenko e Tymoshenko estão sendo punidos com justiça, porque eles são criminosos, e todos os "heróis" das histórias relatadas acima - vítimas do acaso?

Se pode um cidadão confiar no governo? Pode ele acreditar que justamente ele, um ukrainiano, é a fonte de poder neste país e esse país, Ukraina - é para ele, para os ukrainianos, e não para um bando privilegiado de pessoas?

Pesquisadores ocidentais, e mesmo o conhecido Francis Fukuyama, demonstraram: o sucesso das reformas e mudanças econômicas e sociais dependem diretamente da simples categoria da confiança. Confiança no governo, de suas ações, de uns dos outros.

Como esta confiança pode surgir na Ukraina?

A responsabilidade por esta situação está na elite dominante, que até agora não entendeu o princípio básico do Estado: a necessidade do equilíbrio social, que baseia-se nas regras do jogo, seguidas por todos.

Sem isso, no país não só não haverá confiança, como não haverão muitas outras coisas - respeito à autoridade, à propriedade privada, o desejo de seguir leis e pagar os impostos. E até não haverá condições para o surgimento de todos esses fundamentos que estão na base da construção do complexo chamado Estado.

[1] Roman Landik, filho. Casou-se em maio, esposa gravida. Ele, e o amigo, altas horas da noite, convidaram duas moças para outras atividades. Uma das moças, modelo, negou. O convite teria sido feito de maneira grosseira. Foi espancada brutalmente, arrastada no chão pelos cabelos. Tem vídeo na Internet. Está hospitalizada por mais de 15 dias segundo os médicos. O pessoal do restaurante não interferiu porque tem medo. O pai do moço, que é deputado do Parlamento ukrainiano já havia acertado para o filho, que é vereador, a presidência da Associação dos Consumidores de Luhansk. O pai ameaçou os jornalistas que divulgaram o caso. Mas, devido a grande repercussão a polícia efetuou diligências para prender o delinqüente, que foi aconselhado pelo procurador para fugir para Rússia. Segundo notícias divulgadas está preso em Krasnodar na Rússia. Está mesmo?

Esta não foi a primeira demonstração de valentia. Anteriormente, ele, ao volante, atropelou e matou uma pessoa. Havia testemunhas, mas o pai conseguiu encontrar uma pessoa que afirmou estar ao volante e o moço foi inocentado. Não se sabe o que aconteceu com o falso motorista.
As pessoas da localidade dizem que o moço seguidamente arruma brigas e confusões.

[2] É um empresário, bilionário, ukrainiano, do setor de petróleo e gás.


Tradução: Oksana Kowaltschuk

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