domingo, 24 de julho de 2011

Em aliados ou semi-cativos - II Parte

Dzerkalo Tyzhnia (Espelho da semana)
Tytiana Selina

União nos pés de gás
Bilhões de dólares, com os quais acenam os russos, na esperança de arrastar Ukraina para UA, na verdade tiraram do teto, dizem os nossos competentes interlocutores dos ministérios e departamentos, os quais participam das discussões sobre as consequências de tal passo para nosso país. Na verdade, nenhuma pesquisa profunda e abrangente e cálculos profissionais, considerando todos os fatores e envolvimento de negócios não houve - nem na Rússia, nem em nossa Ukraina.

Sim, provavelmente, alguns benefícios rápidos, mas de muito curto prazo, Ukraina, ou melhor, seus governantes, com a entrada na UA podem alcançar. Mas, se olhar um pouco mais longe, além das próximas eleições, se pensar um pouco mais sobre o futuro do país, então a adesão a UA - é um beco sem saída. Um colega russo muito acertadamente escreveu: "Três ditadores de papelão, três assustadas pessoinhas criam seu interdito Mini-OMC, na esperança de escapar para sempre da história. UA - último refúgio da mentalidade soviética, tolamente concebido e mal executado".

Como podemos tentar convencer os ukrainianos que a integração com a UE, com países democraticamente desenvolvidos, alcance econômico de até 15 trilhões de dólares e mercado consumidor de 500 milhões de pessoas com alto poder aquisitivo pode ser menos benéfico para Ukraina, que a integração com UA de três autoritários países pós soviéticos e volume de economia dez vezes menor - 1,5 trilhões de dólares e mercado de 170 milhões de consumidores com poder aquisitivo muito menor? A UE existe já a um longo tempo e provou sua viablidade. UA apenas formou-se e seu futuro é muito impreciso. Sim, a UE hoje tem muitos problemas, mas na Rússia, Bielorússia e Cazaquistão eles são incomparavelmente maiores.

A entrada da Ukraina na UA - é conservação do atraso, ineficiência da produção e dependência energética, convencidos estão muitos especialistas ukrainianos e ocidentais.

Altas tarifas de importação para UA significa que Ukraina (no caso da adesão) receberá maior valor de importação e mudanças nos fluxos do comércio regional em favor da Rússia, Bielorússia e Cazaquistão, que poderá levar a desvios comerciais. Considerando que a UE é um importante fornecedor de bens de investimento e bens duráveis, as importações caras da UE resultarão na redução da modernização e obstáculo a longo prazo ao desenvolvimento econômico", escrevem em seu trabalho "Política Comercial da Ukraina: os aspectos estratégicos e medidas necessárias", especialistas do Instituto de Pesquisas Econômicas e Consultas Políticas (IED) e também o Grupo Alemão de Consultas. Está convencido o presidente do IED, Ihor Burakovskyi. "Depois da adesão a UA, não devemos esperar pelo influxo de capital e tecnologias ocidentais", - disse ele em comentário a este jornal. - "E, sem eles a modernização da capacidade de produção ukrainiana é impensável nos costumeiros prazos históricos". Na Rússia, diz o seguro especialista, Ukraina confiar nesta questão não pode.

Durante a crise de 2008 os fundos de estabilização estavam esgotados, portanto, contar com seu dinheiro para nossa modernização não vale". Nos países da UA é baixa a real concorrência, mas elevados os níveis do monopólio, e um nível significativo de protecionismo na UA não pode estimular o crescimento de produção. Os inovadores modelos de desenvolvimento, explica I. Burakovskyi, aparecem em circunstâncias altamente competitivas, como resultado da luta pela sobrevivência. Nos países da UA a competição é dirigida, e o sucesso do negócio depende da proximidade de seu proprietário do governo.

A UE oferece-nos sem precedentes em sua história uma aprofundada e abrangente zona comercial, a UA - por enquanto apenas o comércio de mercadorias e energia barata.

"Em nosso acordo com a UE regularizar-se-ão até os contratos públicos,  - explica V. Piatnytskyi. - Lá também há a seção "Desenvolvimento Sustentável", que se aplica a proteção de questões ambientais e sociais. Atualmente a UA não cobre esse espectro, que é coberto pelo contrato de FTA com UE. No momento não está claro o que acontecerá na UA até com os serviços, para não mencionar outras questões. Eu acho, que para nós é mais importante passarmos pela escola do acordo com UE, e depois disso poderemos fazer uma escolha consciente. Nós nos encontraremos perante uma escolha: ou uma união aduaneira ou outra. A UE tem uma longa existência, UA, "trio" recém-criado, e nós devemos observar, o quanto ele é exitoso. Se a única coisa que o fortalece, é o preço da energia, então, o que será quando as energias baratas terminarem?
 
E, se existirão elas realmente?
O exemplo que vem da Bielorússia, muito significativo neste plano. Sendo membro do Estado - União RB (República da Bielorússia) e FR (Federação Russa), ratificando todos os documentos à UA e UEE a Bielorússia não conseguiu os preços internos da Rússia para o gás.  Além disso, no primeiro trimestre deste ano ela recebeu o gás por preço mais elevado que em 2010 - 223 dólares por 1000 m³. Os benefícios do fato de que a Rússia suprimiu o imposto sobre a exportação do petróleo, pelo que desesperadamente lutou Aleksandr Lukashenko, também são duvidosos. Pois Minsk transfere a taxa de exportação dos produtos petrolíferos, feitos a partir de matérias-primas russas, para o orçamento da FR. Mais que isso, os importadores de petróleo da Bielorússia, a partir de 2011 são obrigados a pagar aos fornecedores russos um prêmio adicional, que em janeiro era de 46 dólares por tonelada, e em fevereiro - 73 dólares. O valor depende do volume do fornecimento. Quanto mais compra menos paga. É óbvio que a Rússia está interessada em vender a maior quantidade possível de ouro negro para Bielorússia onde ele é transformado, e receber o dinheiro em seu orçamento. A essência do projeto sem a tarifa alfandegária no fornecimento do petróleo, consideram os peritos independentes da Bielorússia, é para afastá-la de outras fontes alternativas e maximamente ligá-la energeticamente e geopoliticamente aos fornecimentos russos. Alguns duvidam que, no caso do nosso país será diferente?

Quanto se pode falar e escrever, que a energia barata não é necessária a Ukraina? O ex-ministro da economia, V. Khoroshkovskyi, hoje chefe do SBU (Serviço de Segurança da Ukraina) chamou a energia barata de "crime contra as futuras gerações". O que mudou em oito anos?

Em sua mensagem anual Viktor Yanukovych se queixou de que "o nível de intensidade energética do PIB na Ukraina ultrapassa a média da CEI e quase triplica em países do mundo economicamente desenvolvidos". "Esta é uma das principais causas de nossa dependência das importações de energia em quantidades excessivamente grandes". Mas o que foi feito pelo governo atual no último ano sobre a poupança e eficiência energética? Especialistas gritam em coro: energia barata prolongará a dependência energética do país, não permitirá a realização de reformas na esfera de economia da energia e diversificação de fontes de recursos energéticos, tornará nossa economia menos compétitiva no longo prazo.

Alguns na Ukraina, como antes, ainda sonham com gás no preço interno da Rússia? Mas lá já decidiram, até 2014 equalizar o nível dos preços domésticos e de exportação. Além disso, os apreciadores do gás barato provavelmente terão problemas nos mercados estrangeiros. "Na saída de um ou outro produto, o qual contenha uma parte de energia barata, em terceiros mercados serão quebradas as condições de concorrência - adverte V. Piatnytskyi.

Supondo que os russos podem, em algum momento, reduzir os preços do gás para o nível interno da Rússia. Mas, quanto tempo isso vai durar? E, se a entrada da Ukraina na UA, ela for a única vítima, o que deverá fazer?

Sem a fusão do Naftogaz [7] com Gazprom o monopolista russo não vai reduzir os preços, afirma convicto o diretor de programas de energia do centro "Nomos" Mikhail Gonchar. Segundo o exemplo de Beltrangaz [8] pelo qual Lukashenko queria receber 17 bilhões de dólares, mas teve que contentar-se com 2,5 por 50%, Naftogaz será avaliado por baixo, 5% do valor do Gazprom, prevê o especialista. Depois, por esse valor os russos podem fornecer gás barato a Ukraina por cerca de dois anos a dois e meio. E talvez menos - quem sabe o que mais pode acontecer no mercado mundial?

No entanto, sem a fusão do Naftogaz com o Gazprom, acentua M. Gonchar, contar com o gás barato não dá, mesmo aderindo a UA. Porque o NAC Naftogaz para o monopolista russo  - é a capacidade de manipular os preços internos ukrainianos. É a "chave de ouro" para os ativos da oligarquia ukrainiana. Portanto o gás barato pode sair muito caro não só para Ukraina como país, mas também para seus não mais pobres cidadãos, para os quais, talvez, a soberania não é um grande valor, mas os quais com certeza não querem que alguém grande e forte entre em seus próprios bolsos.
 
Na véspera
Não precisa se enganar. UA e UEE - não é uma união de direitos iguais de seus membros, onde as oportunidades para o desenvolvimento recebem todos. É na UE que os parceiros fortes sempre podem alcançar o equilíbrio com a opinião de muitos países menos influentes. Nem Alemanha, nem França não tem possibilidades de forçar uma decisão, favorável, exclusivamente a eles. No entanto, UA é um projeto geopolítico e geoeconômico da Rússia. Dele 57 votos pertencem à Rússia, para Bielorússia e Cazaquistão - 21 cada (sendo que as decisões aprovam-se com 2/3 de votos). Com base na taxa da única tarifa 92% coube aos direitos de importação russa. Ainda, Rússia recebe direitos aduaneiros de importação 87,97%, Cazaquistão e Bielorússia 7,33% e 4,7%. Contrariando a promessa de entrada conjunta na OMC, Rússia está se preparando sozinha. Continuar expondo os fatos?

Será que ´"só isso" da global e aprofundada zona comercial da UE pode-se trocar por "plenos direitos" de uma tal UA?

UE, novamente intrigado dá de ombros: o assunto é seu, não vamos importuná-los. Mas, mais uma vez, juntamente com a Comissão Européia lembram: Ukraina pode realizar quaisquer acordos comerciais de acordo com suas prioridades econômicas, mas a sua adesão a UA com países que não liberalizaram seu comércio com a UE e em que aplicam-se as tarifas aduaneiras comuns, impedem as negociações com UE sobre a zona de livre comércio.

Oficialmente, hoje, Kyiv diz claramente: cooperação da Ukraina com a UA não contraria o curso de adesão com a UE.

"Já este ano pretendemos, pelo caminho do compromisso, resolver as diferenças nas posições e alcançar a assinatura decisiva de Acordo para associação e criação de zona de livre comércio" - disse o presidente Yanukovych, discursando no pódio do Parlamento.

O Ministério de Negócios Estrangeiros da Ukraina trabalha para levar a todos os nossos parceiros estrangeiros o conteúdo da mensagem do presidente ao Parlamento. Esperamos que nossos parceiros, especialmente a UE, com muita atenção coloquem-se ao par das claramente definidas prioridades", - disse o diretor do departamento de informação política O. Volochyn.
Extraoficialmente, os nossos interlocutores, a partir de seus escritórios de vários órgãos do governo também argumentam: Ukraina assinara o acordo com a UE, e UA continuará sendo seu parceiro. Mas reconhecem: os tempos se tornam cada vez mais complexos, e os russos mais rigorosos. Em dezembro haverá eleições para Duma (Parlameno), em Moscou, e Moscou quer saber. Rússia como parceiro é realmente necessária para nós. Então, em vez da adesão a UA precisamos lhe propor algo "especial", "prioritário" ou mesmo "estratégico".
 
Ideal para Ukraina, dizem nossos interlocutores, especialistas e representantes do governo, poderia ser um acordo sobre a zona de livre comércio entre Ukraina e UA ao invés de três acordos bilaterais com Rússia, Bielorússia e Cazaquistão. Se Rússia concordará com isso - é uma grande questão.
 
Portanto, nas profundezas de algumas instituições foi pensada uma outra opção - a fórmula "3 + 1", mencionada pelo presidente. O que é este "pacote", todos ainda perdem-se em conjeturas. Quão profundamente ela foi trabalhada - outra pergunta. Nossas fontes, da administração presidencial explicam que ela poderá conter acordo comercial setorial livre, zonas de livre exportação, implementação de programas conjuntos para o desenvolvimento da infraestrutura e corredores de trânsito, unificação de tarifas e regras de transporte, modernização conjunta de normas de estado conforme modelo europeu, desenvolvimento e implementação de mecanismos para melhorar a cooperação das autoridades aduaneiras e fiscais, criação de um mercado comum de serviços educacionais e muito mais. Uma descrição mais detalhada do formato "3 + 1" obviamente será apresentada a V. Putin.
 
Sobre o quanto são atraentes as proposições do primeiro-ministro russo, que métodos psicológicos de pressão na liderança ukrainiana aplicará, é possível que nunca saberemos. Hoje só podemos especular sobre que calos doloridos do presidente ukrainiano planeja pisotear e em que cordas finas do Yanukovych Putin pretende tocar. 
 
O quanto está preparado para esta reunião Yanukovych? O quanto está ciente de todos os riscos e o quanto entende as consequências da possível solução de mudar a integração européia para eurasiana?
 
Se está pronto para surpreendente derrota na política externa e radical atitude por parte de líderes mundiais, com os quais era tão agradável e prestigioso se encontrar? É improvável que eles vão querer, no futuro, ver o imprevisível e inconsistente político, incapaz de manter a palavra perante os eleitores ou parceiros estrangeiros. Se está pronto para limitar seu círculo básico de relacionamento internacional a Putin (Medvedev), Nazarbaev e Lukashenko?
 
Se lembra Yanukovych que os sacrifícios, oferecidos por ele em Kharkiv, aos colegas russos, foram por eles devidamente avaliados? Se conhece ele o provérbio "oferecerás um dedo - pegarão a mão", se sente ele que os russos já pretendem o organismo todo?
 
Se tem consciência o presidente, que o país, que apenas iniciou seu crescimento, em um segundo poderá rachar em dois campos irreconciliáveis? E, em vez da não criada República Autônoma Ukrainiana do Leste e Sul, nós poderemos receber a República Ukrainiana Centro-Oeste?
 
Se entende ele que por muito tempo afirmavam aos ukrainianos sobre a integração européia, com orgulho indicavam a reta final para associação com a UE, que finalmente acreditamos no sonho europeu? E, nas circunstâncias, quando não há com o que pagar o aluguel da moradia, e quase nada para alimentar as crianças, a renúncia ao sonho pode tornar-se detonador de uma grande explosão. E aí a vítima sacrificada será absolutamente inútil. Visto que, aquilo para o qual ela foi oferecida - o poder, - simplesmente cairá de suas mãos e alguém outro o levantará.
 
No círculo do presidente, incluindo o mais próximo, há pessoas capazes de compreender e transmitir para o presidente todos esses riscos. Porque eles também correm o risco de perder seu pedaço de poder neste país, seus fluxos e possibilidade de participar da "pulverização" - no caso da perda da soberania ou revolta nacional.
 
No entanto, qual decisão final aprovará Vitor Yanukovych (para o qual o principal inimigo hoje - absoluamente não é Tymoshenko, e a meta principal - conservar o poder), depende de quê poder ele precisa hoje - real, ou ele concorda com desempenhar poder acessório. E quanto é importante como será lembrado pelos descendentes - estadista e reformador ou pequeno vassalo, que privou o país de sua independência.
 
 
 
[7] NAC Naftogaz - Companhia acionária nacional. Oitava parte do PIB e garante a décima parte do orçamento. 175 mil funcionários. Desempenha o ciclo completo de operações no campo de exploração e desenvolvimento, produção e perfuração de poços exploratórios, transporte e armazenamento do petróleo e gás, fornecimento de gás natural e GLP para os consumidores. Mais de 90% do petróleo e gás na Ukraina é produzido por empresas da Companhia.
[8] Beltransgaz - É uma empresa de transporte e infraestrutura de gás natural da Bielorússia. É administrada pelo governo da Bielorússia e pela empresa de gás russa Gazprom, âmbas com 50% das ações. (08.04.2011)
 
 
Tradução - Oksana Kowaltschuk
 

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