Fuzilamentos de prisioneiros em junho-julho de 1941. Como isto aconteceu.
Ukrainska Pravda
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Assim não fizeram nem os poloneses em 1939, nem os nazistas em 1944.
A milícia da União Soviética fuzilava em massa - com armas automáticas, pelas janelinhas destinadas ao fornecimento de alimentos. Ou lançava granadas para as câmeras. Algumas dessas câmeras foi preciso emparedar para evitar propagação de doenças - e exumar os restos mortais somente com a chegada do inverno.
Junho de 1941 é lembrado na Ukraina Ocidental não somente com o ataque da Alemanha nazista, também com massacres sanguinários, cometidos por supostamente seu governo, na retaguarda.
Trata-se de, até para hoje, fenômeno inédito, mesmo na prática do Comissariado do Povo dos Assuntos Internos (NKVD) da União Soviética - execuções em massa de presos políticos nas prisões da Ukraina Ocidental no final de junho - início de julho de 1941.
A "Verdade Histórica" fornece exemplos de três justiçamentos desse tipo: nas prisões de Lviv, nas minas de sal em Salina e na prisão de Lutsk. O texto de hoje é dedicado a assassinatos em massa em Lviv.
Primeira página da relação dos fuzilados na prisão Nº 3 em Zolochev. São nítidas as observações no documento - determinação da sentença pelo chefe da investigação do setor do UNKGB (Comitê Popular Ukrainiano da KGB) na Província de Lviv, Shumakov, e imposição de sanções para execução da sentença pelo procurador da Província de Lviv, Kharytonov. Duas pessoas decidiram o destino de milhares... Arquivo do Centro de Pesquisa do Movimento de Libertação TSDVR.
No exemplo de Lviv pode-se mostrar com exatidão o trabalho secreto dos "valorosos combatentes da contrarrevolução".
Em Lviv havia três prisões: Nº 1 - Lontskoho, Nº 2 - Zamarstynivska e N° 4 - Brygidky. A prisão Nº 3 ficava no Castelo Zolochev, a 70km de Lviv - para cá eram mandados os presos quando as prisões de Lviv estavam superlotadas (e eram superlotadas: a prisão na Lontskoho, com limite até 1500 pessoas chegou a comportar 3638 presos).
Lado esquerdo do documento anterior. A inscrição em vermelho, feita pela mão do investigador Shumakov: "Instrução para fuzilar os inimigos da nação". E sobrenomes - Barenleym, Didukh, Krachkovskyi, Tsverling, Bonder, Mazurchak, Kotyk...
Nas prisões de Lviv em 22 de junho de 1941 havia 5424 prisioneiros. A maioria era acusada de crimes nos termos do artigo 54 do Código Penal da URSS, isto é - atividades contra-revolucionárias.
Pelo "Processo 59", em dezembro de 1940, em Lviv condenavam as pessoas porque elas eram - ukrainianas.
As medidas oficiais imediatas para solucionar o problema da superlotação vieram sob a ordem Nº 2445/M, do Comissário de Segurança do Estado, Merkulova, de 23.06.1941, e a ordem do chefe da Administração de Prisões da NKVD URSS, capitão da Segurança do Estado, Filippov, em 23.o6.1941.
Parte do lado direito do documento anterior. A anotação com tinta preta - autorização para morte - escrito com a mão do procurador da Província de Lviv, Kharytynov: "Fuzilar como inimigos da nação, sanciono".
No primeiro documento verificava-se o tempo limite de todos os prisioneiros, e a distribuição daqueles que estavam sujeitos à deportação para os campos de concentração do Gulag, e aqueles que necessariamente era preciso fuzilar (Dessa tarefa incumbia-se a NKGB). Para evacuação alocaram-se 204 vagões.
De acordo com a instrução da NKVD URSS, de 29 de dezembro de 1939, um vagão deveria conter trinta deportados, então os vagões indicados seriam suficientes para evacuar 6900 prisioneiros. No entanto evacuaram apenas 1822 dos 5000 planejados.
Petro V. Stashynskyi (1904 - 1941) nascido na aldeia Borshchovychi, na Província de Lviv. Aprisionado em 09.10.1940. Membro do "Prosvita" (pela educação), organização "Força" e OUN (Organização dos Nacionalistas Ukrainianos). Acusado nos termos do Artigo 54pm. 6,11 do Código Penal. Fuzilado na prisão Nº 1 da cidade de Lviv, à rua Lontskoho (Hoje esta rua denomina-se Stepan Bandera, ficando a prisão com o nome Lonstkoho. - O.K.) em 26.06.1941.
A foto é anterior aos anos da guerra, na Praça do Mercado em Lviv. TSDVR (Arquivo do Centro de Pesquisa do Movimento de Libertação).
3602 permaneceram nas prisões de Lviv. E o que aconteceu com os comboios - os documentos não falam.
As execuções começaram em 22.06.1941 - foram fuzilados os condenados à morte. Do relatório intercalar do chefe da prisão UNKVD da Província de Lviv, Lerman, sabe-se que a partir de 24 de junho, nas prisões de Lviv e Zolochev foram fuzilados 2072 presos.
Em 26 de junho confirmaram as relações dos fuzilados - ainda 2068 pessoas foram submetidas à destruição. Elas foram mortas em 24-28 de junho.
Cadáveres dos prisioneiros fuzilados na prisão Lontskoho, Lviv, 1º de julho de 1941. Algumas câmeras os alemães precisaram emparedar para esquivar-se de epidemias. Segunda exumação realizaram em fevereiro de 1942, quando vieram fortes geadas. Arquivo TSDVR.
Desta forma na Província de Lviv foram fuzilados 4140 prisioneiros. No entanto os cálculos não fecham: ficaram nas prisões 3602 pessoas mas fuzilaram mais.
A resposta para esta pergunta fornecem os relatórios de Lerman: aqui havia também a chegada de novos prisioneiros. Os documentos da prisão sobre estas pessoas não formalizavam-se adequadamente.
Na maioria dos casos não relatavam nem os motivos das acusações, mas seguramente, os classificavam como partícipes da OUN, espiões, diversionistas - ou seja, pessoas que deviam ser fuziladas.
Exumação de prisioneiros |
Processo de exumação de prisioneiros fuzilados. 03.07.1941 na cidade de Lviv. Para realização destes trabalhos, os alemães obrigavam os judeus de Lviv. Arquivo TSDVR.
Este é apenas um fragmento da trágica estatística, compreensão dividida por Stalin. A imagem verdadeira revela-se quando olhamos o mapa inteiro da Ukraina Ocidental - quase 24 mil assassinados.
Inicialmente aplicavam a prática usual da NKVD: individualmente, em câmeras especiais, o tiro na nuca. Com a aproximação da frente da batalha, mas os planos ainda não foram executados - fuzilavam em massa: levavam os prisioneiros para as câmeras no porão e através da porta para passagem do alimento disparavam com armas automáticas.
A janelinha abria - o prisioneiro, ao invés da comida para sustentáculo de sua vida, via o meio da destruição... último objeto que via na vida.
Os habitantes de Lviv procuram entre os fuzilados seus parentes no pátio da prisão Nº 1 da cidade de Lviv, 03.07.1941. Arquivo TSDVR.
E nos últimos dias - lançavam granadas dentro das câmeras. Ou abriam a porta da cela. Os prisioneiros saíam para o corredor, pensando que seriam libertados, mas neste momento eram fuzilados com armas automáticas.
Os corpos eram levados por caminhões e enterrados em lugares especiais, os quais agora, gradualmente são descobertos pelos arqueólogos.
Na região do Pré Cárpatos recentemente abriram uma sepultura comum. Parece que são vítimas de 1941.
No entanto, antes da chegada dos alemães os chekistas, apressadamente enterravam os assassinados nos quintais e no subsolo. Mais tarde as escavações dessa hecatombe tornaram-se material de propaganda nazista - certamente não por razões humanitárias.
Houve também a destruição dos prisioneiros evacuados para as províncias centrais e orientais da Ukraina - nas prisões de migrantes de Uman, Kyiv e Kharkiv. Estas cidades eram chamadas de pontos intermediários onde havia a mistura de presos para evitar rebeliões e êxodo em massa durante a deportação.
Propaganda nazista dos fuzilados em prisões - principalmente ukrainianos, poloneses (que aqui viviam devido ao anterior domínio) e judeus - chamando-os "folksdoychamy". Inscrição do correspondente alemão Hubner na foto das conseqüências de execução de prisioneiros em Massa. Arquivo TSDVR.
(O texto em alemão, segundo tradução livre de uma amiga, fala sobre o reencontro com cenas macabras. Os familiares dos massacrados, os quais foram retirados de covas comuns, tentam identificar seus parentes. Eles tampam o nariz diante do forte odor, devido ao estado adiantado de putrefação. Polônia 1939. Nos países ocupados pelos alemães foi anunciado que os russos queriam eliminar o inimigo político, nestas pessoas. - O.K.)
Separadamente merece recordação a tragédia Zalishchytska em Ternopil, quando uma ponte ferroviária sobre o rio Dniester, por raciocínio tático foi destruída, justamente quando dos dois lados vieram comboios com 7 vagões cada. Cada um dos 14 vagões tinha entre 50 e 70 prisioneiros.
NKVD resolveu o problema rapidamente: os vagões foram banhados com produto incendiário e jogados no rio. As margens do Dniester neste local são muito altas e íngremes - ninguém sobreviveu.
Claro, a propaganda soviética "pendurou" todos esses crimes nos nazistas (como também os fuzilamentos dos prisioneiros de guerra poloneses) e, infelizmente, esses mitos andam como fantasmas, mesmo nos dias de hoje.
Surpresa e horror no rosto da moça de Lviv que acabou de entrar no pátio da prisão. 03.07.1941, Lviv. Arquivo TSDVR.
A sociedade ocidental vivenciou o choque do que viu. Afinal, coisa semelhante Polônia não fez no início da II Grande Guerra em 1939 (quando abriram as prisões e libertaram todos os prisioneiros políticos, até avisaram: movam-se para o leste, porque na linha de frente os ex-prisioneiros podem ser fuzilados.
Mais tarde, em 1944 atos assim não praticaram os nazistas (a administração deixou os prisioneiros de campos de concentração vivos antes da chegada dos Aliados). E, este ato terrível, na própria incongruência do assassinato em massa dos presos, tornou-se um dos principais fatores do enraizamento da posição antissoviética da então geração e gerações futuras.
Todos os anos a comunidade de Lviv vem às prisões para lembrar os mortos, e a antiga prisão Nº 1 - Prisão Lontskoho agora é Museu Memorial de todas as vítimas de regimes de ocupação.
(1) Verdade ukrainiana - Verdade histórica
(2) Ihor Derevianyi é historiador e colaborador científico do Museu de Memória Nacional das vítimas de regime de ocupação "Prisão na Lontskoho"
Tradução: Oksana Kowaltschuk
Fotos dos arquivos de TSDVR
Fotoformação: AOliynik
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