sexta-feira, 15 de julho de 2011

"Corda no pescoço" do Yanukovych

Ukrainska Pravda (Verdade ukrainiana) 12.07.2011
Viktoria Siumar


Viktor Yanukovych - Presidente da Ucrânia
O governo ukrainiano gradualmente adquire mais e mais sinais de autoritarismo - a concentração de poder, o controle sobre os tribunais, o uso da aplicação da lei para opressão de opositores políticos, a perseguição de defensores dos direitos dos cidadãos e ativistas, restrições à liberdade de expressão.

Alguns representantes da equipe do governo, sinceramente vêem nisso a demonstração de força, e denominam-no de "ordem". No entanto, cada pessoa, que é capaz de pensar não em dois passos, mas pelo menos cinco passos à frente, hoje já entende: existem muitos assuntos e negócios, os quais colocam o governo numa posição muito difícil, quando a desejada ou fictícia vitória, na sua essência, for derrotada.

Extraordinariamente significativa é questão da Yulia Tymoshenko. Alguns pensam que esta é uma grande oportunidade para demonstrar "quem é o dono da casa" e o que acontecerá com aquela pessoa que tiver sérias intenções de competir pelo poder com Yanukovych. Mas este é apenas um lado da moeda.

Já está claro que ao trazer Tymoshenko aos tribunais, o poder recebeu uma enorme "dor de cabeça".

Em primeiro lugar, Yulia Tymoshenko finalmente recebeu o desejado "palco", e usa-o totalmente. Transmissões diretas da TV, a atenção forçada da imprensa ukrainiana e internacional, a inexperiência do juiz que freqüentemente comete erros e cria um indesejável ambiente "tribunalesco", como o chamou Tymoshenko.

Paradoxo, mas fato: tudo isso pode-se tornar um novo impulso à carreira política da Tymoshenko, a qual, parecia ter recebido um "ponto final".

Então, querendo neutralizar Tymoshenko como oponente político, o governo lhe proporcionou a única chance de voltar à grande política.

Em segundo lugar, o Ocidente tomou uma posição quase unânime neste caso, expressou preocupação e minuciosamente monitora o indesejável precedente. Para os países democráticos é extremamente indesejável castigar um político criminalmente devido a um processo político (é exatamente assim que tratam a assinatura de acordos, porque o interesse particular da Tymoshenko é impossível demonstrar) é um disparate.

Pelos assuntos políticos, o político é responsável perante as eleições, isto é, a responsabilidade é política, não criminal.

Dado o nível de contatos da Tymoshenko na UE, e de forma muito específica de comunicação de alguns "regionais" (partido do governo) com membros da UE, os quais, como Vasyl Kyseliov "aconselhar" o cônsul da UE "vá para sua pátria, se o clima daqui não lhe agrada", esse assunto já se tornou problema para assinatura do acordo sobre associação com a União Européia.

E, apesar do fato de que este acordo havia se tornado uma grande vitória para a diplomacia ukrainiana e pessoalmente para Viktor Yanukovych.

Terceiro. A qualidade do tribunal, a instalação onde ele ocorre, os franco-atiradores nos telhados, as forças especiais na sala, jornalistas espancados e câmeras quebradas - não é simplesmente um show político. Isso tudo é um brilhante e convincente fracasso da "reforma do sistema judicial", que as autoridades registraram em seus ativos próprios. Porque um tribunal desses mostra que para verdadeira transparência, autoridade e independência ao sistema judicial ukrainiano, ainda está muito longe!

Finalmente. Partindo da investigação criminal contra Tymoshenko e Lutsenko, Yanukovych e Ko. criaram um precedente. Já, muitos funcionários nos gabinetes ministeriais precisam pensar quantas questões poderão ser instauradas após a mudança de governo.

Mesmo, se às autoridades do ex-governo Tymochenko, as perguntas sobre corrupção foram colocadas com justeza, se o atual governo foi transparente, e se ele sempre age em estrita conformidade e com as leis. A resposta é óbvia. Então, os processos criminais contra os atuais ministros estão assegurados, é apenas uma questão de tempo.

Aqueles, que sinceramente acreditam que Yanukovych conseguirá construir um sistema hereditário, como conseguiu a Rússia, conhecem mal tanto a Rússia quanto a Ukraina.

Ao contrário da Rússia, onde a idéia imperial é a base, Ukraina é muito diferente em suas aspirações e até mesmo valores. Daí que o pêndulo constantemente vai balançar entre os vetores pró-ocidentais e pró-russos, o que significa mudança inevitável do poder.

Mais que isso, exatamente esta é a base para o progresso real do país quando, por causa da competição entre a classe política, terá que se buscar maior qualidade e responsabilidade no processo político.

O erro ainda maior é acreditar que o governo vai manter o poder a força. No caso de falsificação nas eleições, o governo receberá mais que "dois" do Ocidente, que observará atentamente o processo. Ele receberá a compreensão de muitos grupos sociais quanto às ameaças ditatoriais e "conservação" da situação. E, este processo já começou.

No momento a camada governamental é bastante estreita, representada geralmente por uma região e uma equipe de pessoas que revelam-se incapazes de estabelecer um equilíbrio condicional entre os interesses de diferentes grupos empresariais e diferentes camadas da sociedade.

E a última "corda no pescoço" de Yanukovych. Conter uma revolução - é um assunto extremamente ingrato no mundo atual, globalizado. A experiência mostra Muammar Gadafi e Aleksander Lukashenko (Bielorússia). Tais ações transformam o país na prisão para o ditador e seu comando.

Mas tal perspectiva não agradará ao grupo político ao qual pertencem as pessoas mais ricas do país. Seu dinheiro não está na Ukraina, e não está na Rússia. Seus filhos estudam na Grã-Bretanha, para tratamento da saúde eles acostumaram-se ir à Suíça e Alemanha, para descansar vão à Itália, e até mesmo para compras viajam à França. E, com todas estas possibilidades, certamente não estão preparados para o sacrifício em nome de um líder que não se destaca com um único carisma.

Semelhantes "cordas no pescoço" - sério dilema, que já é importante tê-lo em mente àqueles que confessam e incentivam o curso da "mão forte" que, de fato, pode revelar-se numa posição muito fraca já num futuro próximo.

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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