segunda-feira, 1 de agosto de 2011

ANÁLISE DO GOVERNO UCRANINIANO

Anatoli Hrytsenko: "Para muitos do comando do Yanukovych a perda do poder significará a ida à Procuradoria já no dia seguinte..."

Vysokyi Zamok (Castelo Alto), 13.07.2011
Inna Pukish-Yunko

Independentemente de qual será o ponto final nos processos de Y. Tymoshenko, Y. Lutsenko e outros ex-funcionários públicos, nenhuma das opções promete ao governo algo de bom, considera o líder da "Posição Cidadã!, presidente da Comissão de Segurança e Defesa Nacional. Anatoli Hrytsenko diz: "justiça" arbitrária ameaça às perspectivas européias da Ukraina, dando trunfos às mãos daqueles que argumentam que Ukraina não tem lugar na União Européia.

VZ- O senhor é um daqueles, que teimosamente acredita, que a chance real de mudar a situação na Ukraina, - na união das oposições. Ainda acredita que isto é possível?


Anatoli Hrytsenko
ANATOLI- Deve haver a conscientização da inevitabilidade de um tal passo. Não demonstrando progresso em economia, sociologia, política externa, o governo demonstra o poder de intimidação, pressão e repressão. Parar com isso, somente será possível unindo as oposições. Caso contrário - Yanukovych para sempre. É possível unir todos? Penso, que não. É difícil imaginar como seria unir, por exemplo, em um partido político Tiahnybok, Yatseniuk, Tymoshenko. Embora a união de vários partidos em uma poderosa força de oposição - seria o melhor caminho. Melhor do que os chamados blocos interpartidários ou a criação de listas conjuntas para as eleições, mantendo-se a filiação partidária. É por esse caminho que segue o Partido das Regiões (do Presidente). Ele não cria blocos. Quem quer aliar-se, aliasse.

Se houver intenção de união entre algumas forças políticas da oposição, seria correto que a união ocorresse ao redor do partido que tem a mais extensa rede de organizações primárias e de mais alto nível de apoio entre a população. A questão de quem vai encabeçar este partido e como ela se denominará - é secundária. Anunciar os nomes ou confabular sobre quem deveria estar no primeiro quinteto, agora, que a eleição ainda está longe, significaria arruinar a confiança no seio da oposiçãoo.

VZ - De suas palavras, o poder pode mudar na Ukraina, realmente, apenas após as eleições presidenciais. Mesmo que a oposição tenha maioria no próximo parlamento...

ANATOLI
- Com o retorno à Constituição de 1996 e depois das alterações ao sistema de leis acerca dos poderes, é nas mãos do presidente que estão concentradas as chaves ao pleno poder. A ele estão subordinadas todas as estruturas de força, ele nomeia praticamente todos. O presidente tem as reais alavancas de repressão e de política profissional. O retorno para outro tipo de política só pode acontecer após as eleições presidenciais. Como será o período entre 2012 e 2015? O mais difícil dos últimos anos. Se a oposição conseguir maioria na próximo Parlamento haverão confrontos difíceis com o Presidente. O atual governo decidiu-se pela aplicação das leis através da repressão aos representantes da oposição que trabalharam no governo anterior. E este governo permite prevaricação, abuso de poder e pilhagem de verbas e bens em uma extensão muito maior do que aquela que incrimina aos seus antecessores. Para muitos do comando de Yanukovych a perda do governo significa ida, no dia seguinte à procuradoria - segundo fundamentadas denúncias. E por isso eles vão se agarrar ao poder de todas as maneiras. Um fato, o presidente Leonid Kravchuk ao deixar o posto presidencial, vive tranquilamente. Outro - quando da arena política sair Yanukovych. Muitas pessoas ao seu redor já tem medo, tanto do mais alto, quanto do nível médio. Funcionários têm medo de colocar suas assinaturas em documentos, porque entendem, como isto pode terminar para eles.

VZ - Após a Revolução Laranja também tinham medo. Até para o exterior fugiram. E então o que aconteceu?
ANATOLI - Yushchenko rapidamente demonstrou a sua ineficiência e preguiça. Muitos dos que deixaram o país e, permanecendo no exterior, pensavam - pegarão todos ou só uma parte daqueles que transgrediram as leis durante a campanha eleitoral, e esperavam com temor - aprisionarão hoje ou amanhã, e rapidamente abriram caminho até Bankova (nome da rua onde fica o prédio da presidência - O.K.). Alguém resgatou sua tranquilidade com recursos financeiros para o Arsenal de Artes, outro para "Hospital do Futuro", (Esse hospital deve ter ido mesmo para o futuro porque ninguém mais fala sobre ele, nem sobre o dinheiro arrecadado. - O.K.), - e outros ainda - para construção do Palácio de Baturyn - monumento [1] ... e adquiriam uma sensação maravilhosa...

Quando pressionam somente predecessores e não tocam em aqueles que permitem em dezenas, centenas, e até milhares de vezes mais abusos no governo atual, isso não cria nas pessoas o senso de justiça. Isso - nada mais é que a aplicação seletiva da lei, com a meta da vingança, ou perseguição da oposição, ou revanche. Por 200 mil de UHA (aproximadamente 25.000 mil dólares, que não foram gastos em proveito próprio, mas, segundo julgam hoje, mal aplicados dando prejuízo à nação) impõem acusação a Lutsenko, que já está a mais de sete meses na prisão. No entanto o ministro de combustíveis e energia Boiko, em cuja administração, na compra de uma instalação de perfuração, permitiram-se fraudes em um bilhão e 200 milhões de UHA ($150.000.000), permanece no governo. Tomemos os casos de Chernovetskyi (prefeito de Kyiv), Stelmakh (ex-presidente do Banco da Ukraina), Yezhel (Ministro da Defesa)... Lá o abuso de poder não é comparável ao que incriminam a Lutsenko , Tymoshenko e outros membros do ex-governo.

Não há razões legais, nem morais, para manter atrás das grades Lutsenko, Ivashchenko, Didenko, Tymoshenko, ou restringir-lhes saída além dos limites de Kyiv (Didenko já foi solto, Ivashchenko continua na prisão, e está muito doente. - O.K.) Estas pessoas não representam perigo para sociedade. Barrar o processo, estando em minoria é impossível. A quem querem, impõem novas culpas, quem querem libertam. Essas questões não são resolvidas pelo investigador ou pelo juiz - mas uma só pessoa - Victor Yanukovych.

VZ - E como para o senhor, será a decisão final nas questões de Lutsenko e Tymoshenko?
ANATOLLI = Eu penso, Yanukovych não sabe o que fazer com esses processos. Qualquer saída para ele - ruím do ponto de vista político. É difícil imaginar que, depois dos abusos, que foram forçados passar Lutsenko e Tymoshenko e outros funcionários, se o tribunal culminasse com desculpas e reconhecimento que nenhum deles é culpado, significaria que alguém é responsável por tudo o que ocorreu. Que deveria ser afastado o procurador, o presidente do SBU (Serviço de Segurança da Ukraina) e muitos outros funcionários. Em dúvida ficaria a legitimidade do próprio Yanukovych. Por outro lado, deixando em liberdade os representantes do governo atual, os quais permitiram-se muito mais abusos, ninguém na Ukraina, nem na Europa acreditará, que isso - justiça e lei... Não sei, como Yanukovych sairá dessa situação.

VZ - Se afetarão esses julgamentos políticos na Ukraina no avanço de suas perspectivas à integração européia?
ANATOLI - Europa trata sensivelmente as coisas que para ela são fundamentais: liberdade econômica e política, estado de direito e liberdade de expressão. E, quando na base das negociações sobre associação, ouvem declarações sobre disposição da Ukraina viver e trabalhar de acordo com normas européias, os europeus veem na sua prática diária discrepâncias entre palavras e ações das autoridades, isso cria uma atmosfera de desconfiança. Um mês atrás, estava eu em viagem de negócioos na Alemanha, com Boris Tarasiuk e dois representantes do partido das Regiões - Oleksandr Yefremov e Leonid Khazar. Em quatro, independente de quem é maioria, e quem - minoria, lutamos pela mesma causa: no Parlamento há mais de 400 votos para aprovação de leis, direcionadas ao movimento da Ukraina para Europa, esta é nossa posição comum, e que é apoiada por mais de 60% da sociedade ukrainiana. Fomos vistos positivamente. Mas quando, naqueles dias se soube que Pecherskyi Tribunal aprovou a decisão de deixar Lutsenko atrás das grades, nossas conversas sobre o desejo da Ukraina para Europa imediatamente levantaram questões. Discrepâncias entre palavras e ações das autoridades - problema que pode ser aproveitado pelos membros da UE, que ainda precisam ser convencidos sobre utilidade da integração da Ukraina a UE. Alguns podem usar isso como razão para evitar a Ukraina e deixá-la longe da associação.

VZ - Qual será a retórica de Yanukovych - Azarov nas futuras relações com a Rússia?
ANATOLLI - Penso que Yanukovych e Azarov já perceberam que abjurar da Rússia, com pequenas, ou mesmo grandes concessões não conseguirão. Rússiia precisa da Ukraina inteira como parte de um grande império russo restaurado, no qual não haverá espaço nem para Yanukovych, nem para Azarov, nem para os oligarcas ukrainianos, nem para política independente da Ukraina. Após a assinatura dos "acordos de Kharkiv" [2 ] o governo esperava que Rússia iria rever os preços do gás, não iria pressionar. Já se passaram mais de 15 meses, e do lado russo - nenhum passo ao encontro. Agora ela quer "engolir" o "Naftogaz", junto com a tubulação estratégica [3 ]. Quer mais e mais. É como se dissessem: "Embalem toda Ukraina e tragam para nós, na bandeja, com fitinha de ouro". A saída é uma só: o mais rapidamente possível concluir as negociações com a União Européia, celebrar o acordo com a associação e zona de livre comércio e, com isso, colocar um final nos planos da Rússia que quer restabelecer o império às custas da Ukraina.
---------------------------------------
[1] Baturyn capital da Ukraina no tempo dos "hetman". Em 1708 hetman Ivan Mazepa alia-se ao rei da Suécia, Carlos XII, para escapar do jugo de Moscou. O czar, Pedro I, envia reforços e arraza com a cidade. Todos os habitantes, 21 mil pessoas, foram barbarizadas e mortas.



[2] Em 21.04.2010, na cidade de Kharkiv, Ukraina, o presidente ukrainiano V. Yanukovych e o presidente russo D. Medvedev assinaram a continuação da permanência da frota russa, do Mar Negro, em Sebastopol, Ukraina, de 2017 a 2042.

[3] Naftogaz - companhia acionária nacional. Oitava parte do PIB e décima parte do orçamento. 175 mil funcionários. Desempenha o ciclo completo de operações no campo da exploração e desenvolvimento, produção e perfuração de poços exploratórios, transporte e armazenamento de gás, fornecimento de gás natural e GLP para consumidores. Mais de 90% do gás produzido na Ukraina é produzido por empresas da companhia.
Tubulação que transporta, através da Ukraina gás para Europa Ocidental.

Tradução: Oksana Kowaltschuk

Nenhum comentário:

Postar um comentário