Istorychna Pravda (Verdade Histórica), 24.11.2011
Volodymyr Honskyi
Cantor-poeta, publicitário
Historiadores, juristas e simplesmente pessoas com bom senso e consciência frequentemente apresentavam argumentos convincentes em relação ao caráter genocida dos Holodomores ukrainianos, terrorismo e outras repressões soviéticas. Escrevia sobre isto também este autor.
Negar isto podem talvez bastardos espirituais ou diversionistas imperiais de diversos naipes, cargos e honorários. "E será que era possível enterrar todos esses seus milhões? E onde? - recorda-se um dos "cínicos contra argumentos" do jovem e promissor deputado-comunista-fiel descendente daqueles assassinos.
"No cemitério das ilusões fuziladas já não há espaços para sepulturas" - deseja-se responder a estes mutantes morais, que pecam sempre com novo assassinato, mas querem parecer mais santos que Papa de Roma.
No entanto, na diversidade das questões relativas ao genocídio a comunidade global sempre confronta-se com a pessoa, cuja autoridade é e será, talvez, não menor, do que aqui lembrado Papa.
Este é Raphael (Rafal) Lemkin - autor do conceito de genocídio, que formou-se a base de todos, internacionais e nacionais atos jurídicos.
Será que sabem os seguidores de Stalin, que um dos principais impulsionadores do trabalho abnegado deste Grande Humanista no campo da prevenção de destruição das nações era justamente a compreensão da destruição em massa dos ukrainianos, que mais tarde ele fundamentou como exemplo típico de genocídio?!
Rafal Lemkin nasceu em 1900 na região de Grodno. Nos anos 1920 estudou filologia e direito na Universidade de Lviv. Depois de defender sua tese de doutorado na Universidade de Heidelberg (Alemanha) Lemkin trabalhou como assistente de promotor em Beryzhany (Ukraina), em seguida, ensinou em Varsóvia. Como vemos, o futuro corifeu do direito internacional formava-se no seio ukrainiano das calamidades entre guerras.
Holodomor foi genocídio. Assim considerou o autor do termo "genocídio".
O termo "genocídio" amadureceu em Lemkin não imediatamente. Representando Polônia em várias conferências jurídicas internacionais, exatamente em 1933, o ano do Holodomor, ele propôs: considerar aqueles que causam danos às pessoas das comunidades, culpados de "barbarie", e aqueles, que destroem os valores culturais desta comunidade, - em "vandalismo", deter estas pessoas, julgar e punir.
A seguir Lemkin constantemente aprofunda sua investigação, e à base dos julgamentos do Tribunal de Nuremberg e da Convenção da ONU "Sobre a prevenção do crime de genocídio e punição por ele", aprovadas pela Assembléia Geral em 1948 foram introduzidos justamente as suas conclusões.
Em 1953, em Nova York, no auge de sua fama Lemkin proclama na conferência "Genocídio Soviético na Ukraina (Raphael Lemkin Papers, Manuscrit and Archives Division, The New York Public Library, Astor, Lenox and Tilden Foundations, Box 2, Folder 16).
"Aquilo, sobre o que eu quero dizer, - é, talvez, o exemplo clássico de genocídio soviético, sua mais longa e mais ampla experiência de russificação, ou seja - a destruição da nação ukrainiana", - anuncia seu pensamento Lemkin
Mas, na primeira frase ele indica que a política da URSS - é apenas continuação da política imperial da Rússia czarista:
"A destruição em massa dos povos e nações, que caracterizou o avanço da União Soviética à Europa, não é uma característica nova de sua política de expansão. Isto foi uma característica de longo período da política de Kremlin, à qual os atuais governantes da política de Kremlin tiveram amplos precedentes nas ações da Rússia czarista... Tais crimes imperiais, como o afogamento de 10 mil tártaros da Criméia por ordem de Catarina, a Grande (se sabia Lemkin sobre o afogamento em 1944? - V.H.),... extermínio pelo czar Mykola I dos líderes nacionais poloneses e católicos ukrainianos..."
E esta é muito honesta e atual condição, que todos compreendem, mas nem todos falam em voz alta. Porque se nós mesmos agora repetimos o memorizado "regime de Stalin, crimes de Stalin", nós determinamos apenas 25% da verdade. A expressão "crimes comunistas" é verdadeira apenas para 50%.
"Genocídios de Stalin". Eles eram muitos.
A raiz do mal e sua verdadeira razão, é que todos esses regimes e crimes eram e são imperiais!
Em seguida Lemkin fundamenta, porque exatamente aos ukrainianos a sangrenta idéia imperial ataca mais. Ao lado do poder econômico e demográfico da Ukraina, ele acentua no principal problema para nazistas imperiais (e profetiza para nós):
" Enquanto Ukraina conserva sua unidade nacional, enquanto seu povo continua pensar sobre si como ukrainianos e demanda pela independência, ela representa uma grave ameaça para o coração da idéia soviética... Porque o ukrainiano não é e nunca foi um russo. Sua cultura, seu temperamento, seu idioma, sua religião - tudo é diferente... Ele se recusava da coletivização, aceitando melhor a deportação e até a morte. Por isso era especialmente importante adaptar o ukrainiano ao padrão de Procrusto*, padrão ideal do homem soviético".
Analisando a tecnologia do genocídio ukrainiano, Lemkin identifica quatro componentes:
1. Destruição da inteligência ukrainiana - o cérebro da nação.
2. Destruição da igreja ukrainiana - "alma da Ukraina".
3. Holodomor - destruição dos criadores e acumuladores da cultura, idioma e tradições
ukrainianas.
4. Fragmentação da nação ukrainiana pelo caminho da povoação de estrangeiros na Ukraina e, ao mesmo tempo pulverização de ukrainianos por toda Europa Oriental e Ásia para destruir a unidade demográfica nacional.
Raphael Lemkin (em pé, primeiro da direita) entre os representantes dos países que assinaram a Convenção da ONU sobre a prevenção do genocídio e castigo por ele.
"1920, 1926 e novamente em 1930-33 professores, escritores, artistas, pensadores e líderes políticos foram eliminados, presos ou deportados... Apenas em 1931 foram exilados para Sibéria 51.713 intelectuais. Um semelhante destino encontraram, no mínimo, 114 poetas de destaque, escritores e artistas - mais destacados líderes culturais da nação. ... Pelo menos 75% dos intelectuais e profissionais da Ukraina Ocidental, Transcarpathia e Bukovyna foram brutalmente exterminados pelos russos" - revela os crimes imperialistas-nazistas o destacado humanista caracterizando o primeiro parágrafo de suas acusações.
Apropriadamente, de forma concisa e convincentemente Lemkin acusa o imperialismo comunista-nazista com argumentos sobre outro ponto de vista:
"Entre 1926 e 1932 foi liquidada a Igreja Ortodoxa Autocéfala Ukraina, seu metropolita (Lypkivskyi) e 10.000 sacerdotes. Em 1945 quando o governo soviético foi estabelecido na Ukraina Ocidental, destino semelhante encontrou a Igreja Católica Ukrainiana... Antes da liquidação desta Igreja lhe foi oferecida oportunidade de unir-se ao Patriarcado russo em Moscou - ferramenta política de Kremlin..."
Yanukovych: "Reconhecer Holodomor como genocídio é errado"
Regimes, reis, secretários gerais e outros mandatários passam, mas a guerra com a "alma da Ukraina", Igreja ukrainiana continua. O curto tempo de acesso aos arquivos ukrainianos revelou muitos documentos daquela época que podem ilustrar, completamente, também o estado atual desta guerra inverídica.
A destruição da Igreja ukrainiana, especialmente a tão atual fomentação de inimizade entre igrejas como foi segundo a Deliberação do Partido Comunista (bolchevique) de 13.02.1922: "Com a finalidade da intensificação da luta entre elas (Igreja Autocéfala Ortodoxa Ukrainiana e Igreja Ortodoxa Russa - VH) recusar-se do princípio da maioria,... não permitir questionamento de cidadãos" ( Arquivo Central do Estado das Associações de Comunidades Ukrainianas).
E seguindo mais, você pode citar tais documentos com comandos "fortalecer a repressão", "desorganizar", "liquidar", etc., para execução da principal ainda ordem de Lenin "Quanto maior quantidade de representantes reacionários do clero (porque sempre houve e agora há "não reacionário", "nosso", "progressista" clero - VH) e burguesia reacionária nós pudermos fuzilar, tanto melhor".
"O terceiro gume de ataque soviético era dirigido contra os agricultores - grande massa de agricultores independentes, guardiões das tradições, folclore e música, língua nacional e literatura, espírito nacional da Ukraina. A arma que foi usada contra eles, é, talvez, a mais terrível de todas - enfraquecimento pela fome: Durante 1932-1933 cinco milhões de ukrainianos (a maioria de autores cita sete milhões e alguns dizem que chegou a dez milhões - OK) morreram de fome e brutalidade", - escreve Lemkin, argumentando a terceira direção de suas acusações.
Como Holodomor mudou a consciência dos ukrainianos
Vale a pena destacar aqui a exata compreensão de Lemkin da razão da principal causa do Holodomor ukrainiano que ele reconheceu das declarações dos principais executores desse monstruoso crime: "Kossior** declarou no jornal "Izvestia" em 02.12.1933: o nacionalismo ukrainiano - é o principal perigo para nós". E erradicar esse terrível nacionalismo e estabelecer a uniformidade do Estado soviético, ofereceram como vítima os aldeões ukrainianos.
O quarto passo do genocídio ukrainiano, segundo Lemkin, foi o povoamento da Ukraina por pessoas de fora enquanto os ukrainianos eram deportados para além das fronteiras, para uma mudança radical na composição étnica da população.
"Deste modo seria destruída a unidade étnica. Entre 1926 e 1939, a proporção da população ukrainiana diminuiu de 80% para 73%.
Como resultado da fome e da deportação, a população ukrainiana diminuiu em números absolutos de 23,2 a 19,6 milhões, enquanto a população não ukrainiana cresceu para 5,6 milhões.
Se levarmos em conta que Ukraina tinha o maior nível de crescimento da população na Europa, aproximadamente 800 mil por ano, é fácil de ver que a política russa atingiu seu objetivo".
Também, devo dizer que esta direção do genocídio nem sempre demonstram os "envergonhados" atuais pesquisadores. Mas foram encontrados até demais "maravilhosos documentos de arquivo, a fim de não falar sobre isso mais detalhado.
A deportação em massa de ukrainianos para regiões do leste da Rússia promulgava-se pela resolução do Politburo do Comitê Central da União do Partido Comunista (bolchevique) "Sobre medidas para erradicar as propriedades dos "kulaks" em regiões de completa coletivização" de 30.01.1930 e muitas "sublegais" instruções, comissões, etc.
Campanha de desapropriação. Assim acabavam de matar os camponeses ukrainianos
Já em 12.03.1930 no "Relatório sobre o andamento da deportação comunicava-se, que para além das fronteiras ukrainianas foram deportados 58.411 pessoas.
O professor Vasyl Marochko investigou que de 1929 a 1933, de acordo com este "projeto diabólico (portanto, não incluíndo outras categorias reprimidas) da Ukraina foram deportadas 200.000 famílias de lavradores, ou seja, cerca de um milhão de pessoas.
Documento Nº 403
Comunicado
Comitê de Reassentamento de Toda-União junto ao Comissariado da URSS sobre a deslocação de outros territórios do país.
29 de dezembro de 1933. Terminantemente secreto
Comando Superior GULAG OGPU ao camarada Berman
Publicada a lista sobre comboios com os transferidos a Ukraina, de territórios russos, em 28 de dezembro de 1933.
De: Horkovsk, Ivanovsk, Províncias Central e Ocidental e Bielorrussia para as regiões ukrainianas: Odessa, Donetsk, Kharkiv e Dnipropetrovsk (Regiões com elevado número de simpatizantes pró Rússia até os dias atuais - OK), num total de 329 trens, 21.856 unidades agrícolas, 117.148 famílias, 14.879 cavalos, 21.896 vacas, 89.492 animais diversos.
Plano executado em 104,7%.
De 1933 a 1947 ainda foram transferidas 44.457 famílias (221.456 pessoas). Mas, justamente quando os ukrainianos, quase mortos pela fome, para salvar-se tentavam atravessar a fronteira em busca de alimentos, pela resolução do Politburo do Comitê Central nas fronteiras da URSS colocaram esquadrões de defesa que impossibilitaram sua entrada em Bielorrússia e províncias russas. Eis o início do texto da longa resolução, com a qual os camponeses da Ukraina e Kuban (enfatizo: exatamente da Ukraina e Kuban!) ordena-se "não deixar entrar, expulsar, aprisionar", condenando à morte pela fome:
Em 22 de janeiro de 1933
Rostov-Don, Kharkiv, Voronezh, Smolensk, Stalingrado, Samara.
Número 65/w
Ao Comitê Central vieram notícias que em Kuban e Ukraina teve início o êxodo de camponeses em massa "em busca de pão" para regiões centrais de terra vegetal, do Volga, região de Moscou, região oeste, Bielorrússia...
Representante das Repúblicas Socialistas Soviéticas V. M. Molotov
Secretário do Comitê Central do Partido Comunista J. Stalin.
Não gosto escrever sobre Holodomor, citar aqueles maus documentos, anotações, como também outros horrores da imperfeita natureza humana. Com atitude de respeito coloco-me perante a maioria dos russos, poloneses, alemães e todos aqueles que sabem respeitar a si mesmos.
Mas sempre vou lutar com aqueles que perderam a forma humana, continuam propagar a mentira e o mal, destroem a minha (ou qualquer outra) nação. E iludem submissos seguidores com esse mal.
Não sei se dirão um dia que o Grande Judeu Rafal Lemkin era um Grande Ukrainiano. Considerem que o autor já o disse.
Mas, certamente, até mesmo seus argumentos irrefutáveis não convencerão nossos tabachnyk ? (Tabachnyk - atual Ministro de Educação - simpatizante pró Rússia) ?
Não convencerão! E nós sabemos o porquê...
O autor é grato pela ajuda aos professores Roman Serbyn, Vasyl Marochko, candidata a Ciências Históricas Oleksandra Veselov, dirigente do Museu da Ocupação Soviética Roman Krutsek e outros benfeitores.
*Procrusto - personagem da mitologia grega. Era um bandido que vivia na serra de Elêusis. Em sua casa, havia uma cama de ferro, que tinha seu tamanho exato, para a qual convidava todos os viajantes a se deitarem. Se os hóspedes fossem demasiado altos, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-los à cama, e os que tinham pequena estatura eram esticados até atingirem o comprimento suficiente. Uma vítima nunca se ajustava exatamente ao tamanho da cama porque Procrusto, secretamente, tinha duas camas de tamanhos diferentes.
Procrusto representa a intolerância do homem em relação ao seu semelhante.
**Kossior - Comunista polonês foi um dos organizadores do Partido Comunista (bolchevique) na Ukraina. De 1928 a 1938 foi secretário geral do Comitê Central do Partido Comunista da Ukraina. Por sua iniciativa foram criados os fundos dos "kolkhozes" (fazendas coletivas) e no início de 1933 estes fundos foram excluídos, incluindo as semeaduras de acordo com a diretiva de Stalin e Molotov, e com apoio direto de Kossior ao plano de apropriação de alimentos, o que tornou-se um dos principais motivos da fome de 1932-1933 na Ukraina.
Kossior foi o organizador direto da política de genocídio físico e espiritual ukrainiano, que revelou-se na liquidação da "ukrainização", com apoio à russificação, organização da fome artificial, implantação do terror antiukrainiano, fabricação de inúmeros processos políticos e de extermínio em massa da inteligência ukrainiana. Foi durante o período de Kossior que foram submetidos a repressão ou levados ao suicídio vários líderes comunistas nacionais - Khvyliovyi, Skrypnyk, outros. Kossior foi aprisionado em 1939, acusado de pertencer à chamada "Organização Militar Polonesa" e fuzilado.
Tradução: Oksana Kowaltschuk