No cativeiro do "Myzhyhiria" Yanukovych transformou a vida de seus vizinhos em pesadelo.
Ukrainskyi tyzhden (Semana ukrainiana), 11.01.2014
Bohdan Butkevych
A
primeira coisa que faz um ditador consciente, se deseja governar por
muito tempo - é ganhar o carinho da parte dos habitantes do país,
geralmente pobres, que estão dispostos a vender seus direitos civis
pelas riquezas materiais. Segundo - construir seu palácio o mais longe
das pessoas, para ser mais fácil de guardá-lo e que ninguém espione a
sua vida luxuosa.
Os moradores locais do vizinho soberano não têm nenhum benefício. Mas, os problemas são incontáveis.
"Feod" Yanukovych
(Feod - Na Ukraina Ocidental, no período do feudalismo - a
terra e, às vezes o cargo e os benefícios que o vassalo recebia de seu
senhor por herança com a condição da execução de certas obrigações
(serviço militar, etc).
Quando o autor
deste texto, em 29 de dezembro ia, com um grupo de auto-admiradores, ao
"Myzhyhiria" pelo desvio do caminho, para tentar chegar à residência
presidencial sem ser percebido, tinha absoluta certeza que os moradores
locais estarão do lado do presidente ou, no mínimo, não se alegrarão com
a chegada de estranhos. Especialmente quando lembramos a dedicação das
aldeãs às suas "senhioras" nos patrimônios dos conhecidos feudais de
novos tempos, como Tetiana Zasukha e Mykhailo Poplavskyi. No entanto, a
realidade mostrou-se radicalmente deferente: os novos petrivchany
(habitantes da aldeia Novi Petrivtsi), muitos dos quais trabalham
diretamente para os meios de vida do "feod" Yanukovych, odeiam o
"garante". Nem mesmo a partir do ponto de vista político, embora desses
encontramos muitos. O fato é que os medos de V. Yanukovych transformaram
a vida diária quase um campo de concentração.
Yanukovych
aqui normalmente não é chamado pelo nome, aqui dizem "Ele". Soa quase
como "patrão", "pai". Pois assim é - saído da cidade de Yenakievo, de
Donbas, transformou a grande vila metropolitana, com longa história, em
próprio feudo. Mas, ao contrário de bom senhor feudal, ele não se
preocupa com seus subordinados, mas ignora-os, porque teme-os.
Paramos
próximo a excelente construção do Conselho, onde trabalha o odioso
presidente da aldeia Novi Petrivtsi Rodion Starenkyi, o qual, sempre
obedientemente corre ao tribunal pedindo a proibição de quaisquer ações
próximo a vivenda presidencial. Bilateralmente algumas bancas e
quiosques, dos quais rapidamente saem as vendedoras balzaquianas que,
vendo as bandeirinhas amarelo-azuis nas mãos dos manifestantes começam
encorajar: "Ah, vieram visitar Yanukovych. Correto, precisa enxotar esta
daninha do buraco. Verdade, ele já a alguns dias fugiu para os Cárpatos
- ouvimos seu helicóptero." No início eu não acreditava nos meus
ouvidos. Aproximo-me mais das mulheres, puxo conversa. Pergunto por que
elas não gostam de seu ilustre vizinho.
Uma das
mulheres emocionalmente conta, que quase não contratam moradores locais
para trabalhar no "Myzhyhiria" - todos são trazidos de outras cidades,
escolhidos pela segurança interna, porque, dizem eles, os locais
pertencem ao grupo de risco, portanto mão podem aproximar-se do "corpo".
Então os locais não tem nenhuma vantagem do vizinho soberano. Mas os
problemas são incontáveis, a principal - desde o momento da chegada de
V. Yanukovych é que, de fato, eles deixaram de ser senhores das próprias
casas. Portanto, com excelente boa vontade nos ajudavam encontrar as
não vigiadas passagens para a residência. É necessário reconhecer que
tais são mínimas, em todos os cantos tem polícia. Nas divisas, Berkut
com escudos já são familiares para os moradores. Travessas são
bloqueadas com ônibus e caminhões - verdadeira - guerra.
Desde
que "Ele" aqui se estabeleceu, não temos vida, - diz exaltado o
vendedor de quinquilharias. - Antes dele se tornar presidente, ainda era
sofrível. Depois, aqui acontece de tudo. Em meia aldeia abriram
valetas, para não poder chegar até ele. Permanentemente grupos de
policiais a noite estão nas ruas. A impressão é que vivemos num campo de
concentração. Da minha varanda vejo aquele muro com arame farpado.
Então nós brincamos, que para "ele", desde a juventude a paisagem é
familiar. (Alusão ao aprisionamento de Yanukovych, quando na juventude
foi sentenciado duas vezes por pequenos furtos. O vício progrediu - OK).
Não destacar-se
Quando
Berkut, pára o nosso pequeno comboio no caminho da residência
presidencial aproxima-se, imediatamente uma moradora local, mulher
simpática de mais ou menos quarenta anos, propõe ajuda. Pergunto se ela
gosta de viver próximo de tão importante homem. "E o que o senhor pensa -
é simplesmente horrível. À tardinha não se pode sair em paz nem para
comprar pão - milícia, ou outras pessoas de uniforme, imediatamente se
aproximam, perguntam aonde e por quê vamos, exigem ver o passaporte com
registro. Se você não apresentar, poderá ser detido bem próximo de seu
quintal. Enquanto os manifestantes ainda não vinham ao "Myzhyhiria",
eles ainda estavam em menor quantidade, mas agora são muitos, todos com
escudos".
Pergunto qual a sua
atitude pessoal do Maidan: "Minha irmã com o marido vivem lá. Eu também
vou de vez em quando. Seria bom expulsá-lo rapidamente" - diz apontando
ao "Myzhyhiria.
Ela
explica a uma parte de manifestantes, como é possível, através do
barranco, abrir caminho até próximo a residência de Yanukovych. Uma
parte conseguiu, mas a maioria das pessoas ficou em frente das forças
policiais do Berkut, na rua central de Novi Petrivtsi.
(algum
tempo atrás a jornalista Tetiana Chornovol conseguiu escalar o muro.
Foi detida andando dentro nos jardins. Na ocasião não a massacraram como
dias atrás, talvez porque seus artigos ainda não denunciavam tão
imensos roubos, como os mais recentes, ou porque não poderiam negar a
culpa -OK).
Os
policiais também surpreenderam. Claro, da comunicação recusavam-se, mas
em seus olhos havia incerteza. O motivo não era a não esperada tão
grande presença do número de manifestantes, mas também porque a milícia é
bastante cética na necessidade de tão rigorosas medidas de segurança da
"sagrada Pessoa do presidente". Através de nossas fontes soubemos que
para compor o quadro especial de proteção do "Myzhyhiria" escolhiam com
muita exigência, porém o desejo de proteger o espaço pessoal vazio do
cidadão Yanukovych, expondo-se a riscos, não é lá tão grande, ao
contrário de, por exemplo, de edifícios públicos. Em conversas
particulares muitos soldados zombam do "fiador" e não demonstram muita
vontade de deitar lá seus ossos, caso venha muitas pessoas. Também a
polícia está muito insatisfeita, em por mais de um mês bloquear todas as
ruas da aldeia, paralisando assim a sua vida, e diariamente ouvir
maldições dos moradores locais, que se tornaram reféns do medo que o
presidente tem de seu próprio povo.
No
geral, todos ficaram chocados de tão grande quantidade de pessoas,
aproximadamente 10 mil (a distância de Kyiv é de 25 km.) que vieram
fazer piquetes em frente a residência de Yanukovych. Os rostos dos
moradores expressavam agradável surpresa, que algo assim era possível.
Muitos temiam participar, mas sorriam aprovando atrás de suas cercas.
"Nós aqui ensinaram, que deve sempre haver silêncio, - disse o tio
bigodudo, que trabalha como guarda da casa de um colaborador de
Yanukovych. "Todos foram intimidados, porque o presidente mora aqui,
então a ordem e ficar quieto e não se destacar. Lembro como em 2010,
diziam a todos que residem na rua que "Ele" usa para chegar em sua
residência, que durante o cortejo ninguém olhasse, e Deus nos livrasse
de fotos. Ameaçavam, prometiam atirar ou entregar os transgressores aos
tribunais. Então as pessoas realmente têm medo, e "o" odeiam com alma.
Todos da aldeia que têm carro, foram listados e todos que têm
alguma
relação com a residência "dele", assinam uma declaração que proíbe a
divulgação. Nós gostaríamos protestar, mas o povo não está acostumado
fazê-lo". (Claro, o anterior regime soviético reprimia quaisquer
manifestação, enviando as pessoas ao degredo ou prisão. Yanukovych não
desaponta seus mestres. - OK).
No entanto ainda
há resistência. Antes da ida aos "Novi Petrivtsi", o autor deste texto
leu nas redes sociais muitas mensagens dos autóctones, que recusavam à
milícia, em suas casas, a possibilidade de uso da rede elétrica para o
aquecimento dos ônibus. E, até a vendedora da mercearia sorriu para mim
e, apesar de dois policiais na fila, disse: "Na próxima vez, que venham
centenas de milhares."
Tradução: Oksana Kowaltschuk.
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