Rebeldes pró-russos avançam no leste da Ucrânia e Ministro do
Interior promete "tolerância zero" contra terroristas armados. Rússia
desmente estar por trás das manobras no Leste.
Rebeldes pró-russos ocuparam esquadra em Slaviansk AFP/ANATOLIY STEPANOV
Os rebeldes separatistas que reclamam a auto-determinação de Donetsk,
no leste da Ucrânia, intensificaram a sua campanha contra o Governo de
Kiev e alargaram a sua área de “atuação” para além dos limites daquela
cidade que serve de capital à região industrial do país. Envergando
uniformes militares e armados com granadas e armas de fogo, cerca de 20
militantes pró-russos tomaram uma esquadra de polícia em Slaviansk, e
subiram a parada para a resposta do ministério do Interior – que de
imediato enviou tropas especiais para a região.
O Presidente interino, Olexander Turchinov, convocou
uma reunião urgente do conselho de segurança nacional para discutir a
resposta do Governo à escalada da tensão, e o ministro do Interior,
Arsen Avakov prometeu uma ação rápida e eficaz para “repelir os
terroristas” que ameaçam a integridade territorial da Ucrânia. Depois de
uma semana acantonados no edifício do governo regional de Donetsk, os
“ativistas” russófilos – que as autoridades ucranianas e aliados
ocidentais dizem ser agentes desestabilizadores apoiados por Moscou –
começaram a expandir as suas frentes de luta contra o novo governo
ucraniano.
Avakov denunciou a existência de vários focos de
confrontos e ataques dos secessionistas no leste do país, que
classificou como uma “agressão” fomentada pela Rússia – uma acusação
desmentida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov,
num telefonema ao seu homólogo ucraniano. O ministro do Interior
indicou uma “reação muito dura e severa” das forças ucranianas às
investidas dos “provocadores” e “terroristas armados”. “Para esses é
tolerância zero”, escreveu numa mensagem de Facebook em que dava conta
de troca de tiros entre os grupos armados e a polícia na cidade de
Kramatorsk.
No entanto, o Governo está fortemente condicionado
pela ameaça de intervenção da Rússia em caso de repressão ou violência
contra a população russófila. Esse foi o pretexto para a ofensiva de
Moscou na Crimeia, em Fevereiro: com cerca de 40 mil soldados russos
estacionados a duas horas da fronteira, os dirigentes ucranianos não
podem arriscar a repetição da História.
Na sexta-feira, o
primeiro-ministro, Arseniy Yatsenyuk, procurou acalmar os líderes do
movimento secessionista com promessas de uma maior autonomia regional.
Em conversações em Donetsk, o líder interino garantiu que estava
disposto a promover uma reforma constitucional para transferir várias
competências de Kiev e a negociar uma solução pacífica para o impasse no
Leste.
Mas a sua visita à região não parece ter surtido qualquer
efeito. Os rebeldes não desarmaram e este sábado forçaram a demissão do
chefe da polícia regional de Donetsk, abrindo mais uma brecha na
autoridade do Estado. “Em cumprimento das vossas exigências, afasto-me
do cargo”, cedeu Kostiantin Pozhidaiev, perante uma multidão concentrada
em frente do quartel-general da cidade. No edifício, como em muitos
outros imóveis regionais, já não voa a bandeira da Ucrânia: agora, são
as cores da Rússia, vermelho, branco e azul, ou as tarjas laranja e
pretas adoptadas pelos separatistas, que se vêem nas janelas.
Além
dos grandes centros urbanos de Donetsk, Lugansk e Kharkov, e também de
Slaviansk (que fica a cerca de 150 quilômetros da fronteira com a
Rússia), os rebeldes pró-russos começam a avançar para outras
localidades, complicando a tarefa das forças destacadas pelo Governo. Em
declarações à BBC, Alexander Gnezdilov, o porta-voz dos activistas que
declaram a autonomia da “república popular” de Donetsk, esclareceu que
os militantes que se dirigiram para Slaviansk constituem um “grupo
independente” solidário com o protesto contra o Governo de Kiev.
Segundo
dizia a Reuters, os rebeldes que ocuparam a esquadra de Slaviansk
recolheram todo o arsenal de mais de 400 armas ali disponível,
distribuindo-o pelos seus apoiantes, e contaram também com a colaboração
de residentes locais que ergueram barricadas com pneus e organizaram checkpoints nas estradas para tentar travar o acesso do Exército à cidade.
Um
militante entrevistado pela Associated Press, que se identificou apenas
como Sergei, explicou que a razão pela qual decidira pegar em armas era
para proteger a região dos “nacionalistas radicais e da junta que tomou
o poder em Kiev”. “Só temos uma exigência, que é a realização de um
referendo para a anexação à Rússia. Não queremos ser escravos da América
e do Ocidente”, afirmou.
Entretanto em Kiev, o Governo interino
informou que a empresa estatal Naftogaz suspendeu os seus pagamentos à
Rússia, e preveniu a Europa para eventuais “problemas” de abastecimento
de gás natural. A decisão resulta da subida do preço praticado pela
russa Gazprom: com a queda do Presidente Viktor Yanukovych, a Rússia
acabou com os subsídios que mantinham em baixa as faturas dos
consumidores ucranianos.
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