sábado, 12 de abril de 2014

Governo ucraniano convoca conselho de segurança nacional e diz que há troca de tiros no Leste

Rebeldes pró-russos avançam no leste da Ucrânia e Ministro do Interior promete "tolerância zero" contra terroristas armados. Rússia desmente estar por trás das manobras no Leste.

 
 Rebeldes pró-russos ocuparam esquadra em Slaviansk AFP/ANATOLIY STEPANOV 

Os rebeldes separatistas que reclamam a auto-determinação de Donetsk, no leste da Ucrânia, intensificaram a sua campanha contra o Governo de Kiev e alargaram a sua área de “atuação” para além dos limites daquela cidade que serve de capital à região industrial do país. Envergando uniformes militares e armados com granadas e armas de fogo, cerca de 20 militantes pró-russos tomaram uma esquadra de polícia em Slaviansk, e subiram a parada para a resposta do ministério do Interior – que de imediato enviou tropas especiais para a região.

O Presidente interino, Olexander Turchinov, convocou uma reunião urgente do conselho de segurança nacional para discutir a resposta do Governo à escalada da tensão, e o ministro do Interior, Arsen Avakov prometeu uma ação rápida e eficaz para “repelir os terroristas” que ameaçam a integridade territorial da Ucrânia. Depois de uma semana acantonados no edifício do governo regional de Donetsk, os “ativistas” russófilos – que as autoridades ucranianas e aliados ocidentais dizem ser agentes desestabilizadores apoiados por Moscou – começaram a expandir as suas frentes de luta contra o novo governo ucraniano.

Avakov denunciou a existência de vários focos de confrontos e ataques dos secessionistas no leste do país, que classificou como uma “agressão” fomentada pela Rússia – uma acusação desmentida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, num telefonema ao seu homólogo ucraniano. O ministro do Interior indicou uma “reação muito dura e severa” das forças ucranianas às investidas dos “provocadores” e “terroristas armados”. “Para esses é tolerância zero”, escreveu numa mensagem de Facebook em que dava conta de troca de tiros entre os grupos armados e a polícia na cidade de Kramatorsk.

No entanto, o Governo está fortemente condicionado pela ameaça de intervenção da Rússia em caso de repressão ou violência contra a população russófila. Esse foi o pretexto para a ofensiva de Moscou na Crimeia, em Fevereiro: com cerca de 40 mil soldados russos estacionados a duas horas da fronteira, os dirigentes ucranianos não podem arriscar a repetição da História.

Na sexta-feira, o primeiro-ministro, Arseniy Yatsenyuk, procurou acalmar os líderes do movimento secessionista com promessas de uma maior autonomia regional. Em conversações em Donetsk, o líder interino garantiu que estava disposto a promover uma reforma constitucional para transferir várias competências de Kiev e a negociar uma solução pacífica para o impasse no Leste.

Mas a sua visita à região não parece ter surtido qualquer efeito. Os rebeldes não desarmaram e este sábado forçaram a demissão do chefe da polícia regional de Donetsk, abrindo mais uma brecha na autoridade do Estado. “Em cumprimento das vossas exigências, afasto-me do cargo”, cedeu Kostiantin Pozhidaiev, perante uma multidão concentrada em frente do quartel-general da cidade. No edifício, como em muitos outros imóveis regionais, já não voa a bandeira da Ucrânia: agora, são as cores da Rússia, vermelho, branco e azul, ou as tarjas laranja e pretas adoptadas pelos separatistas, que se vêem nas janelas.

Além dos grandes centros urbanos de Donetsk, Lugansk e Kharkov, e também de Slaviansk (que fica a cerca de 150 quilômetros da fronteira com a Rússia), os rebeldes pró-russos começam a avançar para outras localidades, complicando a tarefa das forças destacadas pelo Governo. Em declarações à BBC, Alexander Gnezdilov, o porta-voz dos activistas que declaram a autonomia da “república popular” de Donetsk, esclareceu que os militantes que se dirigiram para Slaviansk constituem um “grupo independente” solidário com o protesto contra o Governo de Kiev.

Segundo dizia a Reuters, os rebeldes que ocuparam a esquadra de Slaviansk recolheram todo o arsenal de mais de 400 armas ali disponível, distribuindo-o pelos seus apoiantes, e contaram também com a colaboração de residentes locais que ergueram barricadas com pneus e organizaram checkpoints nas estradas para tentar travar o acesso do Exército à cidade.

Um militante entrevistado pela Associated Press, que se identificou apenas como Sergei, explicou que a razão pela qual decidira pegar em armas era para proteger a região dos “nacionalistas radicais e da junta que tomou o poder em Kiev”. “Só temos uma exigência, que é a realização de um referendo para a anexação à Rússia. Não queremos ser escravos da América e do Ocidente”, afirmou.

Entretanto em Kiev, o Governo interino informou que a empresa estatal Naftogaz suspendeu os seus pagamentos à Rússia, e preveniu a Europa para eventuais “problemas” de abastecimento de gás natural. A decisão resulta da subida do preço praticado pela russa Gazprom: com a queda do Presidente Viktor Yanukovych, a Rússia acabou com os subsídios que mantinham em baixa as faturas dos consumidores ucranianos.

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