Agentes dos serviços secretos de Moscou teriam participado no
planejamento da repressão. Moscou reagiu dizendo que a alegação é
contrariada por "numerosas provas". Polícia anti-motim de Yanukovych
responsabilizada por assassínio de manifestantes.
Manifestante com invólucros de balas, em Fevereiro SERGEI SUPINSKY/AFP
As novas autoridades ucranianas acusam os serviços secretos russos e o
antigo Presidente, Viktor Yanukovych, de envolvimento direto nos
disparos que, em Fevereiro, resultaram na morte de dezenas de
manifestantes em Kiev, nos últimos dias do regime deposto.
"Agentes do FSB [serviços secretos russos]
participaram no planejamento e na execução da alegada operação
antiterrorista" contra os manifestantes, disse o atual chefe dos
serviços de segurança da Ucrânia, Valentin Nalivaichenko, numa
conferência de imprensa em que foram anunciados os resultados
preliminares de um inquérito à morte de 76 pessoas, entre os dias 18 e
20 de Fevereiro. Durante os protestos que levaram à queda do regime
foram mortas mais de cem pessoas.
Nalivaichenko disse que equipas
do FSB estiveram em Dezembro e Janeiro nas instalações dos serviços de
segurança do regime e que dois aviões transportaram da Rússia para a
Ucrânia, a 20 de Fevereiro (um dos dias mais sangrentos da repressão),
"toneladas" de explosivos e armamento.
As imputações das
autoridades de Kiev motivaram uma reação do ministro russo dos Negócios
Estrangeiros, que diz serem "contrariadas por numerosas provas". A
investigação sobre a autoria dos disparos deve ser feita de modo
"transparente", disse também Serguei Lavrov.
O serviço de imprensa
do FSB tinha já comentado a acusação, desmentindo-a implicitamente,
numa resposta à agência russa Ria Novosti: "Que essas declarações fiquem
na consciência dos serviços de segurança ucranianos."
As
acusações ucranianas surgem numa altura em que a Rússia anunciou que
alguns dos batalhões que tem mantido concentrados junto à fronteira com a
Ucrânia deverão regressar às suas bases. O governo de Moscou anunciou
também esta quinta-feira que quer esclarecimentos da NATO sobre as suas
atividades na região. A aliança atlântica prometeu, na sequência da
anexação da Crimeia pela Rússia, reforçar a defesa dos países-membros
mais próximos da Rússia.
Os resultados do inquérito preliminar aos
disparos sobre manifestantes no centro de Kiev acusam atiradores da
Berkut, a polícia anti-motim entretanto dissolvida, da autoria material
dos disparos. A procuradoria ucraniana anunciou, também esta
quinta-feira, a prisão de 12 dos elementos de uma das células, a chamada
"Unidade Negra". Mas a operação de repressão ocorreu "sob a liderança
directa" de Yanukovych, acrescentam.
Ao antigo Presidente, que a
21 de Fevereiro fugiu para a Rússia, é atribuída a autorização do uso de
armas contra manifestantes. As novas autoridades emitiram mandados de
captura contra Yanukovych e Oleksandr Yakimenko, antigo chefe dos
serviços de segurança.
A maior parte dos manifestantes
assassinados nos últimos dias do poder de Yanukovych foram mortos na rua
Institutska, junto à Praça da Independência, conhecida como Maidan,
local das grandes concentrações que se prolongaram por meses e levaram à
queda do regime.
Segundo o ministro interino do Interior, Arsen
Avakov, citado pela BBC, o inquérito determinou que, num dos episódios
de repressão, oito manifestantes foram mortos por balas disparadas pela
mesma metralhadora. E que uma unidade comandada por um major é suspeita
da morte de, pelo menos, 17 pessoas. Mas tanto Avakov como Nalivaichenko
disseram, segundo a AFP, não poder identificar sem margem de erro os
autores dos disparos mortais.
Yanukovych tem negado as acusações
de responsabilidade na morte de manifestantes. Numa entrevista
televisiva divulgada na quarta-feira disse que os disparos foram feitos a
partir de edifícios de Kiev controlados por opositores do seu governo.
Na mesma linha, as autoridades de Moscou atribuem os disparos a
movimentos nacionalistas ucranianos, nomeadamente ao grupo de
extrema-direita Setor Direito. [Faz-me rir, senhor Yanukovych - O Cossaco]
Nenhum comentário:
Postar um comentário