sábado, 12 de abril de 2014

Imagens da OTAN mostram Exército russo pronto a intervir junto à fronteira com a Ucrânia

(atualizado às )
As fotografias deram origem a uma discussão sobre a neutralidade de Kiev, que o Kremlin quer consagrada na lei ucraniana.




A crise da Ucrânia ressuscitou a retórica e os métodos de propaganda da Guerra Fria, fazendo lembrar aos dois velhos antagonistas que ainda são “os melhores inimigos”, como comentou à Reuters uma fonte diplomática de Bruxelas.

Ontem, o secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, defendeu que a Aliança deve responder às movimentações russas junto à fronteira ucraniana adotando “medidas suplementares”, como a deslocação de tropas para zonas estratégicas e a realização de exercícios militares. Em resposta, Moscou acusou a OTAN de manipular a informação ao divulgar imagens antigas para provocar uma reação.

O conjunto de fotografias divulgado mostra uma grande e recente concentração de meios de combate russos junto à fronteira da Ucrânia. As imagens, que foram tiradas pela empresa privada DigitalGlobe entre 22 de Março e 2 de Abril, revelam claramente aviões de combate, helicópteros, peças de artilharia e infantaria e equipamento adequado a tropas especiais. Na análise dos comandos da Aliança Atlântica, explicada em conferência de imprensa em Bruxelas, trata-se de equipamento pronto a usar, como estão prontos a entrar em ação os cerca de 40 mil homens que o Governo de Moscou estacionou na região junto à fronteira do Leste da Ucrânia.

Segundo os militares da OTAN, algumas das zonas onde agora está este exército russo, estavam vazias ou praticamente vazias em Fevereiro — a base aérea de Buturlinovka, que estava praticamente desocupada, agora alberga dezenas de caças; Belgorod, que também estava quase deserta em Fevereiro, tem agora 20 helicópteros e fontes citadas pela BBCB diziam que por ser a base mais próxima da fronteira (50km) poderá ser dali que partirá uma invasão, caso este venha a acontecer.

“Trata-se de uma força significativa e pronta para avançar”, disse à BBC o brigadeiro Gary Deakin, que dirige o centro de operações de crise da OTAN em Mons, na Bélgica. “Tem capacidade para se deslocar rapidamente para dentro da Ucrânia mal receba ordens.” As imagens, disseram as fontes, indicam que se trata de uma força ofensiva e não de tropas em “exercício” como defende Moscou.

O Governo russo reagiu à divulgação das imagens e às explicações sobre elas dizendo que as fotografias datam do Verão de 2013, quando foram realizadas manobras na zona. Os russos estão a mentir, responderam os generais da OTAN que , ao fim da manhã de ontem, divulgaram outras fotografias com mais detalhes para “que fique claro que as afirmações dos responsáveis russos são totalmente falsas”.

Rasmussen disse que a OTAN deve responder com mais veemência à ameaça russa. O reforço do patrulhamento aéreo nos Estados bálticos, o envio de aviões-radar Awacs para a Polônia e Romênia e o reforço da vigilância naval no mar do Norte não chegam, na opinião de Rasmussen. “Penso que temos de tomar medidas suplementares e, de acordo com as recomendações das nossas autoridades militares, vamos discutir o assunto nos próximos dias e semanas.” “A reflexão [da próxima semana] poderá incluir uma evolução dos nosso planos de Defesa, o reforço dos exercícios e o deslocamento apropriado [de tropas]”, acrescentou o secretário-geral da OTAN que, porém, esclareceu que a Aliança Atlântica não tem sobre a mesa uma “opção militar”. “A OTAN defende e protege os seus aliados e adotaremos as medidas necessárias - e legítimas perante a instabilidade criada pelas ações da Rússia — que assegurem que essa defesa coletiva seja eficiente.”

Num discurso em tom de Guerra Fria deve procurar-se uma frase chave que explique o que o secretário-geral quis dizer. A frase pode ser esta: “evolução dos planos de Defesa”. Pode ter sido ela a levar o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, a introduzir a questão da neutralidade da Ucrânia na troca de acusações de ontem.

A Rússia, disse Lavrov, quer que a Ucrânia se mantenha um país neutro e quer garantias legais de que será assim. Em 2010, o Presidente destituído da Ucrânia — mas que Moscou ainda considera legitimo — promulgou uma lei que excluía a possibilidade de o país entrar na OTAN e reafirmava a neutralidade deste território que faz parte da linha de neutrais que separa a Rússia da OTAN. O Kremlin receia que o novo poder em Kiev ceda à pressão do Ocidente e quebre esse pacto.

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