quinta-feira, 23 de junho de 2011

Pobreza e desigualdade ameaçam a estabilidade na Rússia. E na Ukraina?

Ukrainska Pravda, 08.06.2011
Anastácia Zanuda


De acordo com os estudiosos russos a pesquisa publicada no site do Comitê de Estatística do Estado da Rússia, a estratificação em cinco antigas repúblicas da União Soviética, inclusive Ukraina, é gritante. E pode tornar-se iniciador potencial de instabilidade política.

Apesar de que Rússia ocupa o 5° lugar no mundo em quantidade de bilionários, 3/4 da população deste país é pobre. Aos "mais miseráveis" pertence cada quinta pessoa (20,5%), aos "pouco providos" - acima da metade (52,9%), e aos "providos abaixo do nível médio" ainda 22,5% dos russos.

O diretor do instituto de tecnologias sociais russos Volodymyr Sokolov considera que tal estratificação econômica pode ser perigosa para Rússia. Ele lembra a fórmula sociológica clássica, de acordo com a qual, para um desenvolvimento normal da sociedade a correlação dos rendimentos de 10% dos cidadãos mais ricos e 10% mais pobres não deve ultrapassar seis vezes. Na Rússia, esse coeficiente, de acordo com a estatística oficial, é superior a 20 vezes, e de acordo com os cáculos dos peritos independentes - 40 vezes.

"Com tal situação a confiança na justiça do país é destruída. Ocorre a rejeição interior ao governo, total insensibilidade a tudo o que ele faz, até quando ele diz palavras certas", -  declarou Volodymyr Sokolov.

Em Azerbaijão, Cazaquistão e Ukraina a situação não é melhor. Nestes países, de acordo com a avaliação dos pesquisadores russos, podem ser considerados pobres até 90% dos habitantes. Somente na Bielorrússia a situação é um pouco melhor - lá 67% da população é "pouco provida".

Então, os países não podem desenvolver-se normalmente, a população pobre não é usuária de produtos internos, serviços e tecnologias. Além disso a exclusão da classe média da população, a qual, segundo os sociólogos é sempre considerada como fator de estabilidade política para a vida no país, ameaça com a chegada ao governo de forças marginais, radicais, e a implantação de ditaduras.

Ukraína não é Rússia?

Algumas conclusões de cientistas russos são verdadeiros para Ukraina, outros - nem tanto, julga a dirigente da seção de pesquisa do nível de vida da população, do Instituto da demografia e pesquisas sociais da Academia Nacional de Ciências da Ukraina Liudmyla Chernenko, que participou dos trabalhos de pesquisa dos cientistas russos.

Comparando as conclusões dessas pesquisas para Rússia e Ukraina na entrevista a "BBC My World", a senhora Chernenko também observou que, ultimamente, os modelos sociais clássicos não se realizam.

Liudmyla Chernenko cita o exemplo dos últimos 20 anos, quando os russos, que sempre foram considerados propensos a rebeliões, "sangrentas e implacáveis", nos anos da desagregação da União Soviética não tiveram capacidade para um protesto influente de massa. Em troca, os ukrainianos, com um dos principais traços nacionais considerados pacíficos, demonstraram ao mundo todo, em 2004, sua capacidade, mesmo que, pacífica, mas vigorosa resistência.

"Possivelmente, devido a esse impetuosamente tecnológico processo dos últimos anos, todos os modelos clássicos, sobre os quais nós lemos nos manuais, não se realizam. Tudo se efetua através de outros argumentos. Aquilo, que nós não conseguíamos nem imaginar a alguns anos, ocorre, - tanto em economia, como na vida comunitária. Por isso eu concordo com os pesquisadores russos que tão grande polarização da sociedade é extremamente perigosa. Ela simplesmente detém qualquer desenvolvimento, tanto no sentido social quanto econômico. Mas, dizer que por este motivo amanhã podemos esperar uma revolução, eu não diria".

Segundo a ONU, para além do limite da pobreza hoje vivem 4 dos 5 ukrainianos. No ano passado os ukrainianos empobreceram mais 10%. Ukraina ocupa 83° lugar no ranking de desenvolvimento da população, segundo a ONU, tendo perdido sete posições em apenas um ano.

No rankig da liberdade econômica segundo o Banco Mundial, Ukraina está em 163°  lugar - entre Cazaquistão e Honduras. Enquanto o salário médio está entre 2 a 2,5 mil UAH (UAH é a sigla da moeda ukrainiana - um dólar está valendo, aproximadamente 8 UAH - O.K.) multimilionários ukrainianos figuram não somente nos levantamentos ukrainianos, mas também nos sérios rankings entre os ricos mundiais.

Os demógrafos e sociólogos na Ukraina desenvolvem uma cadeia lógica: pobreza, má alimentação (o custo dos alimentos no orçamento familiar aumentou mais de um terço em comparação a 1991), medicina precária, mais sobrecarga profissional e as más condições no trabalho geram alta morbidade e mortalidade, queda da natalidade, refluxo migratório do país.

No entanto, os especialistas dizem que a pobreza ukrainiana em relação à pobreza na Ásia ou África tem suas próprias características, a principal delas - pobreza entre pessoas cultas.

Antes da independência, os profissionais instruídos, professores, engenheiros, cientistas - tinham uma renda média para os padrões da União Soviética. Nos anos da independência os ukrainianos encontram-se entre os "novos pobres", mas a nova classe média, que, teoricamente deveria estabilizar a sociedade - empresários, profissionais liberais, funcionários públicos - não apareceu.

Durante o último ano os sociólogos continuamente fixam o crescimento de disposição para protestos entre os ukrainianos. Com a rápida carestia de tudo - de produtos alimentícios a serviços comunais - essa disposição para protestos ainda não se intensificou.

"Na sociedade amadurece a irritação. E, se esta irritação não for dirigida para racionalidade, se as condições materiais continuarem piorando, pode acontecer uma explosão social",  declarou a diretora do fundo "Iniciativas Democráticas" Iryna Bekeshkina em entrevista para "Ukraina Moloda".

Hoje, de acordo com os sociólogos, um em cada cinco ukrainianos considera que somente os protestos populares poderão mudar a situação. Ukraina, finalmente, começou a situar-se no alto do ranking. Por exemplo, no quesito da "revolução" foi classificada no 22°  lugar pelo "The Wall Street Journal".

Significativamente, a população americana de negócios estabeleceu o seu ranking no desenrolar dos protestos em massa no Egito e outros países árabes, resultantes, principalmente, de acordo com os observadores, não apenas pela pobreza, mas também pela gritante desigualdade e impossibilidade de superar as barreiras sociais, mesmo para aqueles que conseguiram obter bons níveis educacionais.

No entanto, a tendência de estratificação da sociedade é peculiar não somente em países com economias em transição.

"Melhorar a vida" para os britânicos está ausente hoje, e amanhã

De acordo com as últimas pesquisas da "Fundação Britânica Resolução", durante a última década no Reino Unido o nível de vida das pessoas que trabalham, e que se consideram de classe média, não apresentou alcance nos padrões econômicos. Nas pesquisas desde 2003, o salário médio na Grã Bretanha quase não apresentou acréscimos. Enquanto a economia durante o último período aumentou 11%.

"Isto é absolutamente novo, sem precedentes para o Reino Unido, quando a economia se desenvolve mas os rendimentos da classe média não crescem", - declarou um dos autores da pesquisa James Planket.

O fato de que quase 11 milhões de britânicos (15% da população), que não se acomodam ao auxílio desemprego, mas trabalham, não veem nenhuma melhoria, nem mesmo perspectivas de melhora, pode levar a sérias consequências sociais e políticas, quando a elite atual já não puder reter o poder em suas mãos, e sobre o cenário político poderão aparecer forças nacionalistas radicais.

EUA: Homem rico, Homem pobre

Nos EUA que continuam a ser a maior potência econômica do mundo, o fosso entre ricos e pobres também atingiu um nível recorde no ano passado. De acordo "U.S Census Bureau", no ano passado 20% dos americanos mais ricos ( renda anual não menor a 100 mil dólares por ano) receberam quase metade de toda renda, enquanto os americanos que vivem abaixo da linha de pobreza, recebem apenas 3,4% das receitas da rotação econômica.

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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