PÚBLICO 28/02/2014 - 08h44min (atualizado
às 12h37min)
Ucrânia pede extradição de Yanukovych
e emite mandados de captura para dez ex-dirigentes políticos.
O ministro interino do Interior
da Ucrânia acusou as forças russas de “invasão armada” depois da ocupação de
dois aeroportos na região da Criméia.
Membros
de uma milícia pró-russa ocuparam esta sexta-feira de manhã parte do principal
aeroporto da província. As autoridades ucranianas dizem ainda que forças
militares russas bloquearam o aeroporto militar de Sebastopol, a cidade
portuária onde a Rússia tem a sua Frota do Mar Negro estacionada. Os russos
negam qualquer envolvimento: "Nenhuma unidade da Frota do Mar Negro
avançou para o aeroporto, muito menos participa em qualquer bloqueio", diz
um porta-voz.
“Considero o que se está a
passar uma invasão armada e uma ocupação que viola todos os acordos e as normas
internacionais”, escreveu o ministro Arsen Avakov na sua página de Facebook.
Ao início da tarde, as
autoridades ucranianas voltaram a controlar os aeroportos, afirmou o diretor do
Conselho Nacional de Segurança, Andrei Parubi. "Houve uma tentativa de
tomada dos aeroportos de Simferopol e de Sebastopol, mas voltaram agora ao
controle pelas forças de segurança ucranianas", revelou Parubi.
Entretanto, o chefe das Forças
Armadas, Yuri Ilin, foi demitido pelo Presidente interino, Oleksander Turchinov,
segundo a BBC. Ilin foi nomeado ainda por Viktor Yanukovych durante os
confrontos de há duas semanas. Na altura especulava-se que o exército poderia
estar perto de ser chamado a intervir.
Vários dos homens que entraram
nos aeroportos acabaram por sair, embora alguns se tenham mantido, segundo
várias agências. Há também relatos da aproximação de helicópteros militares
russos.
“Estou com a Milícia do Povo da Criméia”,
disse à Reuters um homem que se identificou como Vladimir. “Estamos a trabalhar
para manter a ordem no aeroporto. Vamos receber os aviões com um sorriso.”
Segundo a AFP, para além destes
milicianos, vestidos com roupas civis, há homens, com uniformes e armados com
Kalashnikovs, que patrulham o exterior do aeroporto de Simferopol. Estes não
permitem que os jornalistas se aproximem, ao contrário dos milicianos. “Estamos
aqui para manter a ordem pública e não bloqueamos nada. Mas se os bandidos
nacionalistas vierem vamos combatê-los.”
Apelo aos EUA e ao Reino
Unido
O Parlamento ucraniano votou
entretanto uma resolução, que vai fazer chegar ao Conselho de Segurança da ONU,
onde apela aos Estados Unidos e ao Reino Unido para garantirem a sua soberania
– estes países, tal como a Rússia, assinaram o Memorando de Budapeste, em 1994,
acordo que dava à Ucrânia a garantia de independência em troca da sua renúncia
a armas nucleares.
O texto aprovado pelos deputados
pede a norte-americanos e britânicos que “confirmem os seus compromissos” com a
Ucrânia e lancem “consultas imediatas para fazer baixar a tensão no país”.
A Comissão Européia fez apelos
para que seja encontrada uma "solução política" e que as partes
envolvidas tenham um comportamento "contido e moderado". "A
situação na Criméia requer uma solução política que só pode ser alcançada
através da via do diálogo entre as diferentes partes envolvidas", afirmou
um porta-voz da comissão.
A Criméia é a única região da
Ucrânia onde a maioria da população é de origem russa e as tensões estão em
crescendo desde sábado, quando o Presidente Viktor Yanukovych desapareceu e a
oposição tomou o poder. Na quinta-feira, um comando pró-russo ocupou
já a sede do governo e do parlamento da região autônoma, enquanto Moscou
colocava em alerta de combate os seus aviões junto à fronteira ocidental.
Os deputados regionais aprovaram
a marcação de um referendo sobre a autonomia da província, justificando a
medida como as ameaças à paz na Criméia, fruto “da tomada inconstitucional do
poder na Ucrânia por nacionalistas radicais, com o apoio de grupos criminosos
armados”.
Extradição para Yanukovych
Num outro desafio aos novos
líderes de Kiev, Yanukovych prepara-se para dar uma conferência de imprensa
esta sexta-feira. Isso anunciou o próprio na quinta-feira, seis dias depois de
ter desaparecido. “Ainda me considero o legítimo chefe de Estado ucraniano”,
disse, em declarações
à agência russa Itar-Tass, sem revelar o seu paradeiro mas explicando ter
pedido “às autoridades russas” para garantirem à sua segurança “contra os
extremistas”.
A justiça ucraniana vai pedir a
extradição de Yanukovych, caso se confirme a sua presença na Rússia, anunciou
esta sexta-feira o procurador-geral. Será, contudo, improvável que Moscou aceda
ao pedido da Ucrânia, alertam alguns analistas. O procurador emitiu também dez
mandados de captura em nome de várias figuras da anterior administração,
segundo a Reuters.
A Áustria e a Suíça congelaram
as contas bancárias de vários cidadãos ucranianos suspeitos de abusos de
direitos humanos, na sua maioria antigos governantes do país. Um deles será o
filho de Yanukovych, Oleksander, presidente da sociedade Mako Trading, com sede
em Genebra, e que tem uma fortuna calculada em 500 milhões de dólares, segundo
a AFP.
As autoridades policiais suíças
lançaram também um inquérito criminal aos negócios de Yanukovych e do seu
filho, sob suspeita da lavagem de dinheiro. O Ministério Público afirma que já
foram iniciadas buscas a alguns escritórios em Genebra.