Mais de 50 mil milhões de euros terão saído dos cofres do país para paraísos fiscais, segundo o novo primeiro-ministro, cujo gabinete foi aprovado esta quinta-feira.
A Ucrânia precisa de um “governo de kamikazes”, disse Yatseniuk SERGEI SUPINSKY/AFP
O Fundo Monetário
Internacional confirmou esta quinta-feira que recebeu um pedido de assistência
do governo da Ucrânia ao qual está “pronto a responder”. A diretora do fundo,
Christine Lagarde, revelou, citada pela AFP, que será enviada uma equipa ao
país “nos próximos dias”.
O novo
primeiro-ministro, Arseni Yatseniuk, revelou haver um buraco nas contas
públicas superior a 50 mil milhões de euros, responsabilizando o Presidente
deposto Viktor Yanukovych. Nos últimos três anos “a soma de 70 mil milhões de
dólares (51 mil milhões de euros) saiu do sistema financeiro da Ucrânia em direção
a contas em paraísos fiscais”, afirmou perante o Parlamento.
O Parlamento aprovou esta
quinta-feira o novo governo interino da Ucrânia por larga
maioria. O novo primeiro-ministro optou por um discurso realista que sublinha
as dificuldades que o país terá pela frente.
O Presidente interino,
Oleksander Turchinov, foi o primeiro a prever um futuro sombrio: “Este é um
governo condenado a conseguir trabalhar por apenas três ou quatro meses porque
terá de tomar decisões impopulares.” Seguiu-se Yatseniuk, que se referiu à
necessidade de um “governo de kamikazes”,
expressão que já tinha utilizado na véspera.
O diagnóstico foi posto a
nu por Yatseniuk, que, aos 39 anos, já passou pelas pastas da Economia e dos
Negócios Estrangeiros e foi governador do Banco Nacional da Ucrânia. “As contas
públicas estão a zero (…) A dívida pública é de 75 mil milhões de dólares neste
momento (…) O desemprego está num ritmo galopante, assim como a fuga de
investimentos.”
As medidas “impopulares”
vão passar pela “redução dos programas sociais e das subvenções” e pela
“redução das despesas orçamentais”. Próximo poderá estar um empréstimo dos EUA
no valor de mil milhões de dólares, segundo revelou o secretário de Estado,
John Kerry, que acrescentou que a Europa está a equacionar um pacote no valor
de 1,5 mil milhões.
A Rússia mantém em suspenso
um acordo assinado com a anterior administração, em que estava prevista a concessão
de um empréstimo superior a 11 mil milhões de euros.
Arseni Yatseniuk não deixou
de referir a ameaça separatista na região autônoma da Crimeia, onde no mesmo
dia um comando pró-russo tomou as sedes do parlamento e governo
regionais.
“A integridade territorial
está ameaçada, assistimos a manifestações de separatismo na Crimeia”, afirmou.
“Disse aos russos para não nos enfrentarmos, nós somos amigos e parceiros.” O
tom conciliador de Yatseniuk veio depois da notícia de que Moscou tinha
iniciado exercícios militares perto da fronteira com a Ucrânia e que as suas
forças armadas foram postas em alerta máximo.
Se, por um lado, os novos
governantes tentam apaziguar as relações com a Rússia, por outro, fazem da
aproximação à Europa uma das prioridades. “A Ucrânia vê o seu futuro na Europa,
como membro da União Européia”, afirmou Yatseniuk, deixando antever que um dos
próximos passos poderá ser a retoma das negociações para a assinatura do acordo
com Bruxelas rejeitado em Novembro por Yanukovych.
À estratégia européia da
Ucrânia não será alheia, por exemplo, a nomeação de um vice-primeiro-ministro
para a Integração Européia. É a Boris Taraiuk, um diplomata que foi ministro
dos Negócios Estrangeiros em quatro governos diferentes, que irá caber a
missão.
O novo gabinete de
ministros é descrito como “uma combinação de antigas caras manchadas por
alegações de corrupção, novos heróis revolucionários e nomeados que podem fazer
a diferença”, segundo a jornalista do Kyiv Post, Katia
Gorchinskaia.
A Economist afirma mesmo que o governo será controlado
por Yulia Tymoshenko, chamando a atenção para a grande quantidade de
personalidades do seu partido. (fonte: publico.pt)
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