segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

DESORDENS NA UCRÂNIA CRIAM PROBLEMAS NA INDUSTRIA MILITAR RUSSA E CHINESA

Vassili Kashi

China, Rússia, bandeira

A prolongada crise que reina na Ucrânia tornou evidente a fraqueza do Estado ucraniano. 

Mesmo se a administração do presidente ucraniano Viktor Yanukovych sobreviver a esta crise, a fraqueza continuará a existir, o que gera numerosos problemas, em particular, para as empresas russas e chinesas da indústria militar, que cooperam com as congêneres ucranianas.
Atualmente na Ucrânia existe o perigo real de intensificação de desordens internas, de destruição da infraestrutura e da repartição de bens do Estado. No caso de saída de Viktor Yanukovych, são possíveis também alterações imprevisíveis na política externa ucraniana.
Há pouco, foram publicados os textos das conversas telefônicas interceptadas entre a adjunta do secretário de Estado norte-americano Victoria Nuland e o embaixador americano na Ucrânia, Geoffrey Pyatt. Este documento torna evidente que os americanos participam diretamente da escolha da estrutura do futuro Governo na Ucrânia. É perfeitamente possível que, nestas novas condições, eles é que irão tomar a decisão final a respeito da política externa ucraniana.
Isto cria problemas complicados para as indústrias militares da Rússia e da China, que cooperam com as respectivas empresas ucranianas. Por exemplo, o parceiro-chave ucraniano para os russos e para os chineses é a empresa Motor Sich, o principal produtor de motores para os helicópteros de fabricação russa. Esta mesma empresa produz motores para aviões de treinamento e de transporte e para alguns tipos de drones e de mísseis.
O presidente da empresa, Viacheslav Boguslaiev, é uma destacada personalidade do Partido das Regiões, chefiado por Yanukovych. Na cidade de Zaporojie, onde está situada a empresa, a oposição não conseguiu tomar a sede da administração local. É possível que isso se deva à existência aí de uma grande empresa orientada para o mercado russo. No caso de mudança do poder, de saneamento do pessoal e de repartição dos bens, o destino da empresa pode ficar em questão. O roteiro pessimista é perfeitamente possível, pois os grandes saneamentos do pessoal e a apropriação de bens de grandes empresas já tiveram lugar depois da chamada “revolução laranja” de 2004. De referir que, naquela altura, as contradições entre os grupos políticos ucranianos não eram tão agudas como agora.
A crescente influência dos EUA pode fazer com que eles bloqueiem a exportação de alguns tipos de armamentos e de tecnologias militares da Ucrânia para a China, da mesma maneira que já fizeram em relação à União Europeia e a Israel.
Além dos motores da empresa Motor Sich, utilizados nos aviões chineses de treino e combate L-15, nos aviões russos Yak-130 e nos helicópteros Mi-17, – este último tipo de aeronave tem tido amplo uso na Rússia e na China, – podem ser afetadas também outras esferas da colaboração, por exemplo, os fornecimentos de motores diesel para os tanques MVT-2000, que a China produz para exportação. Existem também várias outras esferas de colaboração. Por exemplo, o fornecimento de máquinas para navios, de radares, da aparelhagem eletrônica utilizada na indústria militar, etc.
A Ucrânia era um importantíssimo centro de desenvolvimento da indústria militar e de tecnologias de ponta da URSS. Depois do desmoronamento da União Soviética, a produção de todos os tipos de armas estratégicas da Rússia dependia em grande parte do fornecimento de componentes ucranianos. Foram preciso vários anos para liquidar esta dependência. A indústria militar da Rússia reorganizou gradualmente o processo de cooperação de produção, diminuindo a sua dependência em relação à Ucrânia, mas este trabalho está longe da conclusão. Por exemplo, embora na região de Petersburgo fosse posta em funcionamento uma empresa própria de motores para helicópteros, o papel da empresa Motor Sich no fornecimento de componentes da indústria russa de helicópteros continua sendo muito importante.
A China também procura superar a dependência em relação ao fornecimento de motores diesel ucranianos de 1200 H.P., destinados aos tanques exportados. Mas, apesar da realização de testes bem-sucedidos do tanque MVT-3000, este trabalho ainda não está concluído. A nova crise política em Kiev faz que a Rússia e a China ponderem novamente os riscos relacionados com a colaboração técnico-militar com a Ucrânia. O mais provável é que Moscou e Beijing aumentem esforços a fim de superar a dependência em relação à indústria militar ucraniana.

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