Mesmo se a administração do presidente ucraniano Viktor
Yanukovych sobreviver a esta crise, a fraqueza continuará a existir, o
que gera numerosos problemas, em particular, para as empresas russas e
chinesas da indústria militar, que cooperam com as congêneres
ucranianas.
Atualmente na Ucrânia existe o perigo real
de intensificação de desordens internas, de destruição da infraestrutura
e da repartição de bens do Estado. No caso de saída de Viktor
Yanukovych, são possíveis também alterações imprevisíveis na política
externa ucraniana.
Há pouco, foram publicados os textos das conversas telefônicas
interceptadas entre a adjunta do secretário de Estado norte-americano
Victoria Nuland e o embaixador americano na Ucrânia, Geoffrey Pyatt.
Este documento torna evidente que os americanos participam diretamente
da escolha da estrutura do futuro Governo na Ucrânia. É perfeitamente
possível que, nestas novas condições, eles é que irão tomar a decisão
final a respeito da política externa ucraniana.
Isto
cria problemas complicados para as indústrias militares da Rússia e da
China, que cooperam com as respectivas empresas ucranianas. Por exemplo, o
parceiro-chave ucraniano para os russos e para os chineses é a empresa
Motor Sich, o principal produtor de motores para os helicópteros de
fabricação russa. Esta mesma empresa produz motores para aviões de
treinamento e de transporte e para alguns tipos de drones e de mísseis.
O
presidente da empresa, Viacheslav Boguslaiev, é uma destacada
personalidade do Partido das Regiões, chefiado por Yanukovych. Na cidade
de Zaporojie, onde está situada a empresa, a oposição não conseguiu
tomar a sede da administração local. É possível que isso se deva à
existência aí de uma grande empresa orientada para o mercado russo. No
caso de mudança do poder, de saneamento do pessoal e de repartição dos
bens, o destino da empresa pode ficar em questão. O roteiro pessimista é
perfeitamente possível, pois os grandes saneamentos do pessoal e a
apropriação de bens de grandes empresas já tiveram lugar depois da
chamada “revolução laranja” de 2004. De referir que, naquela altura, as
contradições entre os grupos políticos ucranianos não eram tão agudas
como agora.
A crescente influência dos EUA pode fazer
com que eles bloqueiem a exportação de alguns tipos de armamentos e de
tecnologias militares da Ucrânia para a China, da mesma maneira que já
fizeram em relação à União Europeia e a Israel.
Além dos
motores da empresa Motor Sich, utilizados nos aviões chineses de treino
e combate L-15, nos aviões russos Yak-130 e nos helicópteros Mi-17, –
este último tipo de aeronave tem tido amplo uso na Rússia e na China, –
podem ser afetadas também outras esferas da colaboração, por exemplo, os
fornecimentos de motores diesel para os tanques MVT-2000, que a China
produz para exportação. Existem também várias outras esferas de
colaboração. Por exemplo, o fornecimento de máquinas para navios, de
radares, da aparelhagem eletrônica utilizada na indústria militar, etc.
A
Ucrânia era um importantíssimo centro de desenvolvimento da indústria
militar e de tecnologias de ponta da URSS. Depois do desmoronamento da
União Soviética, a produção de todos os tipos de armas estratégicas da
Rússia dependia em grande parte do fornecimento de componentes
ucranianos. Foram preciso vários anos para liquidar esta dependência. A
indústria militar da Rússia reorganizou gradualmente o processo de
cooperação de produção, diminuindo a sua dependência em relação à
Ucrânia, mas este trabalho está longe da conclusão. Por exemplo, embora
na região de Petersburgo fosse posta em funcionamento uma empresa
própria de motores para helicópteros, o papel da empresa Motor Sich no
fornecimento de componentes da indústria russa de helicópteros continua
sendo muito importante.
A China também procura superar a
dependência em relação ao fornecimento de motores diesel ucranianos de
1200 H.P., destinados aos tanques exportados. Mas, apesar da realização
de testes bem-sucedidos do tanque MVT-3000, este trabalho ainda não está
concluído. A nova crise política em Kiev faz que a Rússia e a China
ponderem novamente os riscos relacionados com a colaboração
técnico-militar com a Ucrânia. O mais provável é que Moscou e Beijing
aumentem esforços a fim de superar a dependência em relação à indústria
militar ucraniana.
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