Apenas os EUA podem deter Putin - ex assessor do presidente russo
Rádio Svoboda, 8.02.2014
Entrevista a jornalista Iryna Storhin (Apenas as respostas).
Reintegração
da Ukraina é "a mais alta prioridade" para Vladimir Putin porquanto irá
definir-lhe o status de "unificador das terras russas" e permitir-lhe
"até o fim" a consolidação no governo - considera o ex-assessor de
Putin, o analista russo Andrii Ilarionov. Putin não mudará seus planos
por causa do Maidan, então ele vai com tudo, até à intervenção militar
direta.
Na opinião de Ilarionov apenas os EUA podem deter Putin, se eles quiserem.
Andrii Ilarionov
A
principal questão é manter o controle e o poder na Ukraina sob
Yanukovych e por outros líderes que consideram-se
adequados por Moscou e Kremlin. Yanukovych não é o único, mas desde que ele é presidente, ele
é o primeiro. Os outros são Medvedchuk e Kliuiev. A questão principal é
como manter o poder, como dar conta do Maidan e como implementar os
interesses de Kremlin na Ukraina.
Se no
circuito de Putin há pessoas que entendem, que as ações de protesto na
Ukraina - não são provocações do Ocidente contra Rússia, que os
frequentadores do Maidan não são pagos pelos EUA, mas cidadãos que
querem justiça, é duvidoso. Mas, mesmo que haja, isso não significa que
eles encontrarão força, vontade e coragem para expressar suas opiniões.
E, mesmo se tais pessoas se encontrarem, isto não afetaria a posição de
Putin.
V. Putin é forte internamente,
psicologicamente, e se ele decidiu algo, influenciá-lo é impossível.
Principalmente nas questões primordiais.
Controlar
Ukraina, ou parte dela, sem sombra de dúvida, é uma das questões
prioritárias para Putin, e sobre esta questão ele não pretende dar a
outrem prioridade. Ele tem uma visão clara do mundo, do que ele precisa
da Ukraina, e de que maneira ele pretende fazê-lo. Portanto, todos os
pontos de vista alternativos, ele percebe hostis ou traiçoeiros.
Planos de Putin para Ukraina
Permitirão
aos dirigentes das regiões Leste e Sul da Ukraina procurar ajuda da
Rússia contra nacionalistas, nazistas, fascistas, seguidores de Bandera,
(Bandera foi um dos líderes do movimento insurgente ukrainiano anterior
à II Guerra Mundial, tachado como se estivesse a serviço da Alemanha,
sendo que, na realidade, lutava pela independência da Ukraina. Assim que
os alemães chegaram, ele foi preso e enviado a Alemanha, onde foi
assassinado por um agente russo, de nacionalidade ukrainiana -OK) os
quais, supostamente, os ameaçam com privação do poder. Consideram-se
quatro cenários: Primeiro - estabelecimento de controle total sobre
Ukraina. Opção inicial, hoje sujeita a séria revisão porque a revolução
ukrainiana dos últimos meses mostra que o ocidente , o centro e dez
províncias seria muito caro controlar. Então, ao primeiro lugar ascendeu
a segunda opção, que começa com a federalização da Ukraina.
Este
é o slogan que ouvimos de todos os cantos nos canais estatais da
Rússia, da boca de uma série de representantes do Partido das Regiões,
comunistas e também da boca das autoridades da Ukraina oriental. Ele
consiste na divisão de plenos poderes, dos órgãos centrais do governo
aos órgãos regionais. E, na segunda etapa os plenos poderes também na
esfera dos contatos externos.
Isto permitirá aos gestores do
leste e sul da Ukraina procurar ajuda da Rússia contra os nacionalistas,
nazistas, etc., os quais, supostamente, os ameaçam com privação do seu
poder. E não precisa duvidar, que tal ajuda será fornecida. E, por
qualquer caminho.
Repito, por qualquer caminho.
Não se deve esquecer o cenário de Abkházia e Ossétia do Sul. Quanto a
Sevastopol e Criméia, não há dúvida que tal pedido de ajuda será
expresso. Quanto a outras cidades: Odessa, Mykolaiev, Luhanks, Kharkiv,
a questão é mais complicada mas aqui já se conduz o trabalho.
Kyiv
será interessante somente, se houver luta por toda Ukraina. Ele, sem
dúvida é um pedacinho encantador para Kremlin, como "a mãe das cidades
russas". No entanto, no início, pode contentar-se com o arco que vai de
Kharkiv, através de Luhansk e Donetsk, Kherson, Mykolaiev, Odessa,
Criméia e Transnistria ou Prednistrovia.
Mapa das regiões ukrainianas
Não
foi casualmente que citei Transnistria, pois nos planos de
federalização da Ukraina e seu posterior desenvolvimento político,
Transnistria, que, aparentemente já está esquecido por todos, não está
esquecida pelos autores desses planos. Eles querem definir uma ponte de
terra para contato direto da fronteira oriental da Ukraina ao Dniester,
com passagem de controle sobre centros costeiros ukrainianos a grupos
políticos pró-Rússia ou pró Kremlin.
Localização da Transnistria
Transnistria, a partir dos séc. X e XI
historicamente esteve sempre ligada à história da Ukraina, tendo feito
parte do Estado poderoso e prestigiado na Europa, o Principado de Kyiv,
que estabeleceu a base das identidades nacionais eslavas orientais, nos
séculos subsequentes.
Com
a Revolução Russa a Transnistria foi incorporada à República Social
Soviética da Ukraina (1919). Hoje esta região pertence, oficialmente, à
Moldávia, embora tenha unilateralmente declarado sua independência em
1990. A região mantém-se, de fato, independente com o auxílio de forças
russas. O Conselho da Europa considera a questão da Transnistria um
"conflito congelado".
Depois
disso o plano inicial de Putin pode ser considerado cumprido. Ele se
tornará unificador "das terras russas" e, portanto, permanecerá neste
novo estado até o final. O regime político na Rússia se tornará mais
agressivo, chauvinista. O que acontecerá na Ukraina, penso eu, é
compreensível.
O ocidente - é o elo mais fraco da defesa ukrainiana
Pelo
menos nas palavras, durante a conferência sobre segurança, a atitude
dos EUA mudou um pouco. Isto transpareceu no discurso do Sr. Kerri,
quando ele, na presença do Sr. Lavrov e outros participantes declarou
que a Ukraina precisa escolher com quem deve ficar: ou com a comunidade
internacional, ou com um país. E ninguém tem dúvidas qual o país
ele tinha em mente. Pelo menos, isto foi bem compreendido por Lavrov,
que evadiu-se da sala e deu entrevista a jornalistas, dizendo que Kerri
expressa agitação, o que é inaceitável a políticos sérios.
Lavrov
pretendia deixar a conferência e voltar a Moscou. No entanto, de Moscou
veio a ordem de voltar para sala e atentamente ouvir, que proposições
mais virão do ocidente. O ocidente, em minha opinião não está pronto
para ações sérias, além de declarações públicas. Este é o elo mais fraco
da defesa ukrainiana.
Ninguém mais no mundo é capaz, de alguma forma, limitar as ações de Kremlin.
Na
última década, V. Putin, deliberadamente, de forma consistente e com
muita maestria conduz políticas antiamericanas. Este é um elemento
fundamental de sua visão de mundo. Nos EUA, ele vê a única ameaça grave
para a implementação da sua doutrina de política externa. Ninguém, além
dos Estados Unidos é capaz de limitar, de alguma forma, as ações do
atual Kremlin no cenário mundial.
Mas
a administração dos EUA não demonstrou sua vontade de prosseguir uma
política consistente, exceto em uma ou duas direções. Em todas as
outras, geralmente concorda com a posição e políticas do Kremlin.
Yanukovych não tem chance de vitória. Então a única chance de preservar o poder - o uso da força.
No
que diz respeito à ex-URSS, Putin conduz uma política de reintegração
desses territórios em uma nova formação, que deve coincidir com as
fronteiras do antigo império soviético. Para isto usam-se ferramentas
econômicas, informativas, inteligência, operações especiais, recursos
financeiros, controle dos representantes da linha pró-Kremlin em
diversos países da ex-União Soviética. De vez em quando, um ou outro
país encontra-se à beira de atenção. Hoje é Ukraina, e isto não é por
acaso, porque Ukraina, atualmente, passa por uma grande crise econômica e
política. Exatamente este período é selecionado como o mais favorável
para implementação da campanha dos objetivos estratégicos da
reintegração da totalidade da Ukraina, ou parte dela, à atual Rússia.
Putin não se recusa desta tarefa, e Glazyev atua no papel de agente informante, falando sobre esses planos.
Desde
que nas eleições democráticas na Ukraina, se elas fossem realizadas
agora, Yanukovych não teria chances. De acordo com as previsões mais
positivas, ele obteria 20-25% de votos. Disto ele não precisa. Ele
chegou ao poder para não perdê-lo. Então a única maneira para manter o
poder é o uso da força, a força da qual ele é constantemente lembrado
por Glazyev.
Yanukovych
não será "governador" da Malorossia (Pequena Rússia - a parte da
Ukraina, citada acima, que Rússia se contentaria a conquistar no
início). Nesta situação ele não será nem governador, nem presidente. Seu
único valor de significância para Kremlin consiste em que ele controle
toda Ukraina, seja presidente da Ukraina. Se ele não conseguir manter-se
neste cargo, ele não é necessário. Para governar Malorossia encontrarão
outra pessoa.
A
revolução ukrainiana não tem caráter que lhe atribuem os arquitetos do
Kremlin. Não é continuação da guerra da NKVD com UPA (Exército
Insurgente Ukrainiano - segunda guerra mundial), e que, quem crítica
Yanukovych é injuriado como "nazista ou fascista". Confesso que por
algum tempo eu também pensava assim. No entanto, a julgar pelo que está
acontecendo na Ukraina, de acordo com o componente social do Maidan,
onde há pessoas de Donetsk, Kharkiv, Dnipropetrovsk, Mariupol e Criméia é
óbvio que a revolução ukrainiana não é o personagem que a ela atribuem
os arquitetos de Kremlin.
Isto
não é oposição do ocidente e centro contra o leste e sul. Talvez, no
início parecia com a orientação da UE ou União Aduaneira. Mas, agora,
Maidan mostrou que a sua essência - é revolução anticriminal.
As
pessoas do leste e sul conheceram os meios criminosos muito mais que as
pessoas do centro ou ocidente. Eles sabem bem o que representa o regime
criminal que enraizou-se nas regiões leste e sul da Ukraina.
Em
relação ao terror que iniciaram aos ativistas do Maidan, por parte de
cidadãos da Ukraina - sem medo da palavra, é questão de vida ou morte.
Em Moscou criaram o Comitê de solidariedade com Maidan.
O
Comitê de solidariedade com Maidan que criamos em Moscou tem como
tarefa de informar a verdade aos russos o que, hoje, acontece na
Ukraina.
Nossa
associação é de pessoas que querem expressar seu apoio ao Maidan e todo o
povo da Ukraina, em sua tentativa de criar um país livre de crimes,
país democrático, país onde as escolhas políticas serão feitas pelo
povo. Nossa principal tarefa é informar a verdade aos russos sobre o que
está acontecendo na Ukraina.
Nossa
segunda tarefa - estabelecer contatos entre russos e ukrainianos
normais. É a diplomacia pública. A terceira tarefa é ajudar Maidan,
tanto com dinheiro, como com objetos, tendas, remédios. E, finalmente, a
quarta tarefa - ações públicas para que a sociedade russa saiba, que
Rússia não se limita com declarações falsas, forjadas por Kremlin e seus
propagandistas. Há uma outra Rússia.
Nós
expressamos nosso sincero respeito a Dmytro Bulatov e Ihor Lutsenko, e a
todos que estão no Maidan, não apenas pela questão ukrainiana, também
pela questão russa. Isto não é exagero.
Se
o Maidan dispersarem, então nossos países por décadas encontrar-se-ão
em crise. Se o Maidan vencer e conseguir alcançar a ser criado um
sistema político livre, sem intervenção de criminosos e invasores, isto
será um sinal forte que na Rússia, mais cedo ou mais tarde isto poderá
acontecer também. Vitória do Maidan - é vitória da democracia, da
liberdade, de sociedade aberta na Rússia. Um pouco mais tarde, mas será
assim.
Para
ajudar a vitória do Maidan é necessário criar um sistema de autodefesa
de todos os participantes do Maidan. É necessário concentrar-se em duas
áreas. Fortalecimento organizacional técnica, ideológica, quadros,
materiais e dinheiro. É importante aprender com semanas anteriores pra
que ninguém mais seja ferido.
O
Maidan não pode dissolver-se sem vitória, sem nova Constituição, antes
da eliminação da perseguição, antes da formação de um governo de
transição que vai preparar as eleições antecipadas. Este é o trabalho do
Maidan.
A outra direção é o Parlamento. Aqui Maidan deve formular exigências claras aos deputados para criação de uma nova maioria.
Tradução: Oksana Kowaltschuk
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