segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

APENAS OS EUA PODEM DETER PUTIN

Apenas os EUA podem deter Putin - ex assessor do presidente russo

Rádio Svoboda, 8.02.2014
Entrevista a jornalista Iryna Storhin (Apenas as respostas).

Reintegração da Ukraina é "a mais alta prioridade" para Vladimir Putin porquanto irá definir-lhe o status de "unificador das terras russas" e permitir-lhe "até o fim" a consolidação no governo - considera o ex-assessor de Putin, o analista russo Andrii Ilarionov. Putin não mudará seus planos por causa do Maidan, então ele vai com tudo, até à intervenção militar direta. 
Na opinião de Ilarionov apenas os EUA podem deter Putin, se eles quiserem.

Andrii Ilarionov
 
A principal questão é manter o controle e o poder na Ukraina sob Yanukovych e por outros líderes que consideram-se adequados por Moscou e Kremlin. Yanukovych não é o único, mas desde que ele é presidente, ele é o primeiro. Os outros são Medvedchuk e Kliuiev. A questão principal é como manter o poder, como dar conta do Maidan e como implementar os interesses de Kremlin na Ukraina.

Se no circuito de Putin há pessoas que entendem, que as ações de protesto na Ukraina - não são provocações do Ocidente contra Rússia, que os frequentadores do Maidan não são pagos pelos EUA, mas cidadãos que querem justiça, é duvidoso. Mas, mesmo que haja, isso não significa que eles encontrarão força, vontade e coragem para expressar suas opiniões. E, mesmo se tais pessoas se encontrarem, isto não afetaria a posição de Putin.

V. Putin é forte internamente, psicologicamente, e se ele decidiu algo, influenciá-lo é impossível. Principalmente nas questões primordiais.

Controlar Ukraina, ou parte dela, sem sombra de dúvida, é uma das questões prioritárias para Putin, e sobre esta questão ele não pretende dar a outrem prioridade. Ele tem uma visão clara do mundo, do que ele precisa da Ukraina, e de que maneira ele pretende fazê-lo. Portanto, todos os pontos de vista alternativos, ele percebe hostis ou traiçoeiros.

Planos de Putin para Ukraina

Permitirão aos dirigentes das regiões Leste e Sul da Ukraina procurar ajuda da Rússia contra nacionalistas, nazistas, fascistas, seguidores de Bandera, (Bandera foi um dos líderes do movimento insurgente ukrainiano anterior à II Guerra Mundial, tachado como se estivesse a serviço da Alemanha, sendo que, na realidade, lutava pela independência da Ukraina. Assim que os alemães chegaram, ele foi preso e enviado a Alemanha, onde foi assassinado por um agente russo, de nacionalidade ukrainiana -OK) os quais, supostamente, os ameaçam com privação do poder. Consideram-se quatro cenários: Primeiro - estabelecimento de controle total sobre Ukraina. Opção inicial, hoje sujeita a séria revisão porque a revolução ukrainiana dos últimos meses mostra que o ocidente , o centro e dez províncias seria muito caro controlar. Então, ao primeiro lugar ascendeu a segunda opção, que começa com a federalização da Ukraina.

Este é o slogan que ouvimos de todos os cantos nos canais estatais da Rússia, da boca de uma série de representantes do Partido das Regiões, comunistas e também da boca das autoridades da Ukraina oriental. Ele consiste na divisão de plenos poderes, dos órgãos centrais do governo aos órgãos regionais. E, na segunda etapa os plenos poderes também na esfera dos contatos externos.
Isto permitirá aos gestores do leste e sul da Ukraina procurar ajuda da Rússia contra os nacionalistas, nazistas, etc., os quais, supostamente, os ameaçam com privação do seu poder. E não precisa duvidar, que tal ajuda será fornecida. E, por qualquer caminho.

Repito, por qualquer caminho. Não se deve esquecer o cenário de Abkházia e Ossétia do Sul. Quanto a Sevastopol e Criméia, não há dúvida que tal pedido de ajuda será expresso.  Quanto a outras cidades: Odessa, Mykolaiev, Luhanks, Kharkiv, a questão é mais complicada mas aqui já se conduz o trabalho.

Kyiv será interessante somente, se houver luta por toda Ukraina. Ele, sem dúvida é um pedacinho encantador para Kremlin, como "a mãe das cidades russas". No entanto, no início, pode contentar-se com o arco que vai de Kharkiv, através de Luhansk e Donetsk, Kherson, Mykolaiev, Odessa, Criméia e Transnistria ou Prednistrovia.

http://epc-ukraina.ucoz.com/_nw/0/63646.jpg
Mapa das regiões ukrainianas

Não foi casualmente que citei Transnistria, pois nos planos de federalização da Ukraina e seu posterior desenvolvimento político, Transnistria, que, aparentemente já está esquecido por todos, não está esquecida pelos autores desses planos. Eles querem definir uma ponte de terra para contato direto da fronteira oriental da Ukraina ao Dniester, com passagem de controle sobre centros costeiros ukrainianos a grupos políticos pró-Rússia ou pró Kremlin.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4a/Europe_location_TIA.png
Localização da Transnistria
Transnistria, a partir dos séc. X e XI historicamente esteve sempre ligada à história da Ukraina, tendo feito parte do Estado poderoso e prestigiado na Europa, o Principado de Kyiv, que estabeleceu a base das identidades nacionais eslavas orientais, nos séculos subsequentes. 
Com a Revolução Russa a Transnistria foi incorporada à República Social Soviética da Ukraina (1919). Hoje esta região pertence, oficialmente, à Moldávia, embora tenha unilateralmente declarado sua independência em 1990. A região mantém-se, de fato, independente com o auxílio de forças russas. O Conselho da Europa considera a questão da Transnistria um "conflito congelado".

Depois disso o plano inicial de Putin pode ser considerado cumprido. Ele se tornará unificador "das terras russas" e, portanto, permanecerá neste novo estado até o final. O regime político na Rússia se tornará mais agressivo, chauvinista. O que acontecerá na Ukraina, penso eu, é compreensível.
 
O ocidente - é o elo mais fraco da defesa ukrainiana

Pelo menos nas palavras, durante a conferência sobre segurança, a atitude dos EUA mudou um pouco. Isto transpareceu no discurso do Sr. Kerri, quando ele, na presença do Sr. Lavrov e outros participantes declarou que a Ukraina precisa escolher com quem deve ficar: ou com a comunidade internacional, ou com um país. E ninguém tem dúvidas qual o país ele tinha em mente. Pelo menos, isto foi bem compreendido por Lavrov, que evadiu-se da sala e deu entrevista a jornalistas, dizendo que Kerri expressa agitação, o que é inaceitável a políticos sérios.

Lavrov pretendia deixar a conferência e voltar a Moscou. No entanto, de Moscou veio a ordem de voltar para sala e atentamente ouvir, que proposições mais virão do ocidente. O ocidente, em minha opinião não está pronto para ações sérias, além de declarações públicas. Este é o elo mais fraco da defesa ukrainiana.
Ninguém mais no mundo é capaz, de alguma forma, limitar as ações de Kremlin.

Na última década, V. Putin, deliberadamente, de forma consistente e com muita maestria conduz políticas antiamericanas. Este é um elemento fundamental de sua visão de mundo. Nos EUA, ele vê a única ameaça grave para a implementação da sua doutrina de política externa. Ninguém, além dos Estados Unidos é capaz de limitar, de alguma forma, as ações do atual Kremlin no cenário mundial.
Mas a administração dos EUA não demonstrou sua vontade de prosseguir uma política consistente, exceto em uma ou duas direções. Em todas as outras, geralmente concorda com a posição e políticas do Kremlin.
Yanukovych não tem chance de vitória. Então a única chance de preservar o poder - o uso da força.

No que diz respeito à ex-URSS, Putin conduz uma política de reintegração desses territórios em uma nova formação, que deve coincidir com as fronteiras do antigo império soviético. Para isto usam-se ferramentas econômicas, informativas, inteligência, operações especiais, recursos financeiros, controle dos representantes da linha pró-Kremlin em diversos países da ex-União Soviética. De vez em quando, um ou outro país encontra-se à beira de atenção. Hoje é Ukraina, e isto não é por acaso, porque Ukraina, atualmente, passa por uma grande crise econômica e política. Exatamente este período é selecionado como o mais favorável para implementação da campanha dos objetivos estratégicos da reintegração da totalidade da Ukraina, ou parte dela, à atual Rússia.
Putin não se recusa desta tarefa, e Glazyev atua no papel de agente informante, falando sobre esses planos.

Desde que nas eleições democráticas na Ukraina, se elas fossem realizadas agora, Yanukovych não teria chances. De acordo com as previsões mais positivas, ele obteria 20-25% de votos. Disto ele não precisa. Ele chegou ao poder para não perdê-lo. Então a única maneira para manter o poder é o uso da força, a força da qual ele é constantemente lembrado por Glazyev.

Yanukovych não será "governador" da Malorossia (Pequena Rússia - a parte da Ukraina, citada acima, que Rússia se contentaria a conquistar no início). Nesta situação ele não será nem governador, nem presidente. Seu único valor de significância para Kremlin consiste em que ele controle toda Ukraina, seja presidente da Ukraina. Se ele não conseguir manter-se neste cargo, ele não é necessário. Para governar Malorossia encontrarão outra pessoa.

A revolução ukrainiana não tem caráter que lhe atribuem os arquitetos do Kremlin. Não é continuação da guerra da NKVD com UPA (Exército Insurgente Ukrainiano - segunda guerra mundial), e que, quem crítica Yanukovych é injuriado como "nazista ou fascista". Confesso que por algum tempo eu também pensava assim. No entanto, a julgar pelo que está acontecendo na Ukraina, de acordo com o componente social do Maidan, onde há pessoas de Donetsk, Kharkiv, Dnipropetrovsk, Mariupol e Criméia é óbvio que a revolução ukrainiana não é o personagem que a ela atribuem os arquitetos de Kremlin.

Isto não é oposição do ocidente e centro contra o leste e sul. Talvez, no início parecia com a orientação da UE ou União Aduaneira. Mas, agora, Maidan mostrou que a sua essência - é revolução anticriminal.

As pessoas do leste e sul conheceram os meios criminosos muito mais que as pessoas do centro ou ocidente. Eles sabem bem o que representa o regime criminal que enraizou-se nas regiões leste e sul da Ukraina.

Em relação ao terror que iniciaram aos ativistas do Maidan, por parte de cidadãos da Ukraina - sem medo da palavra, é questão de vida ou morte.

Em Moscou criaram o Comitê de solidariedade com Maidan.

O Comitê de solidariedade com Maidan que criamos em Moscou tem como tarefa de informar a verdade aos russos o que, hoje, acontece na Ukraina.
Nossa associação é de pessoas que querem expressar seu apoio ao Maidan e todo o povo da Ukraina, em sua tentativa de criar um país livre de crimes, país democrático, país onde as escolhas políticas serão feitas pelo povo. Nossa principal tarefa é informar a verdade aos russos sobre o que está acontecendo na Ukraina. 
Nossa segunda tarefa - estabelecer contatos entre russos e ukrainianos normais. É a diplomacia pública. A terceira tarefa é ajudar Maidan, tanto com dinheiro, como com objetos, tendas, remédios. E, finalmente, a quarta tarefa - ações públicas para que a sociedade russa saiba, que Rússia não se limita com declarações falsas, forjadas por Kremlin e seus propagandistas. Há uma outra Rússia.

Nós expressamos nosso sincero respeito a Dmytro Bulatov e Ihor Lutsenko, e a todos que estão no Maidan, não apenas pela questão ukrainiana, também pela questão russa. Isto não é exagero.

Se o Maidan dispersarem, então nossos países por décadas encontrar-se-ão em crise. Se o Maidan vencer e conseguir alcançar a ser criado um sistema político livre, sem intervenção de criminosos e invasores, isto será um sinal forte que na Rússia, mais cedo ou mais tarde isto poderá acontecer também. Vitória do Maidan - é vitória da democracia, da liberdade, de sociedade aberta na Rússia. Um pouco mais tarde, mas será assim.

Para ajudar a vitória do Maidan é necessário criar um sistema de autodefesa de todos os participantes do Maidan. É necessário concentrar-se em duas áreas. Fortalecimento organizacional técnica, ideológica, quadros, materiais e dinheiro. É importante aprender com semanas anteriores pra que ninguém mais seja ferido.

O Maidan não pode dissolver-se sem vitória, sem nova Constituição, antes da eliminação da perseguição, antes da formação de um governo de transição que vai preparar as eleições antecipadas. Este é o trabalho do Maidan.
A outra direção é o Parlamento. Aqui Maidan deve formular exigências claras aos deputados para criação de uma nova maioria.

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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