Líderes ucranianos dizem a Moscou que “qualquer movimento de tropas será considerado uma agressão militar”. Crimeia aprovou realização de referendo sobre estatuto de autonomia.
As forças de segurança estão em alerta na Crimeia BAZ RATNER/REUTERS
O presidente interino da Ucrânia avisou esta quinta-feira a
frota russa contra qualquer “agressão militar”. Oleksandr Turchinov falava
pouco depois de um grupo de homens armados pró-russos ter tomado vários
edifícios governamentais na Crimeia, ao mesmo tempo que a agência de notícias
russa Interfax noticiava que os aviões russos ao longo da fronteira ocidental
tinham sido colocados em alerta de combate.
“Dirijo-me aos dirigentes militares da frota do Mar Negro: todos
os militares devem permanecer no território previsto pelos acordos. Qualquer
movimento de tropas será considerado uma agressão militar”, disse Turchinov
numa intervenção no Parlamento, em Kiev. O enviado diplomático da Rússia foi
convocado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, que repetiu os
avisos de Turchinov.
Moscou assegurou que "a frota russa no Mar Negro aplica
estritamente todos os acordos em questão". O Ministério dos Negócios
Estrangeiros acrescentou que "o envio de certos veículos blindados da
frota do Mar do Negro foi feita em conformidade com os acordos e não necessita
de qualquer aprovação". Durante as manifestações desta semana na Crimeia,
foram deslocados dois veículos blindados russos para dois locais de Sebastopol.
É precisamente na cidade portuária de Sebastopol, na Crimeia,
única região da Ucrânia onde a maioria da população tem origem russa, que
Moscou tem estacionada a sua frota do Mar Negro. Na quarta-feira, a Rússia já
anunciara o início de um grande exercício militar junto à fronteira. “Patrulhas
aéreas constantes estão a ser realizadas pelos aviões de combate nas regiões de
fronteira”, escreve agora a Interfax, citando o Ministério da Defesa russo. “De
momento, receberam ordens para estar em alerta máximo.”
O parlamento regional da Crimeia aprovou, ao início da tarde, a
marcação de um referendo sobre a autonomia da província, avançam algumas
agências. Foi lançado um comunicado de imprensa que justifica a decisão com as
ameaças à paz na Crimeia, que resultam "da tomada inconstitucional do
poder na Ucrânia por nacionalistas radicais, com o apoio de grupos criminosos
armados".
"Estamos confiantes de que apenas a realização de um
referendo sobre o estatuto de autonomia irá ajudar os habitantes da Crimeia a
determinar o futuro da região sem pressões externas", afirma o comunicado,
citado pela agência Itar-Tass.
A consulta foi marcada para 25 de Maio, o mesmo dia em que se
vão realizar as eleições presidenciais antecipadas.
Desde sábado, dia em que o Presidente Viktor Yanukovych
desapareceu e a oposição ucraniana tomou o poder , após três meses de
protestos, que grupos que militam pelo retorno da Crimeia à Rússia terão
começado a formar uma milícia para se defender das novas autoridades.
Quarta-feira, manifestantes anti-russos invadiram o parlamento
regional depois de se ter espalhado o boato de que os deputados iam decidir
declarar que a Crimeia se separaria do resto da Ucrânia. Seguiu-se uma batalha
campal que envolveu milhares de pessoas de um de outro lado nas ruas do centro
de Simferopol, a capital da região.
Esta manhã, dezenas de homens armados controlavam não só a sede
do parlamento como a do governo regional da península russófona. Entraram
durante a madrugada, içaram bandeiras russas e um cartaz onde se lê “Crimeia é
Rússia”.
O primeiro-ministro regional, Anatoli Mohiliov, disse à AFP que
os homens estão equipados com “armas modernas” e que impediram os funcionários
de entrar nos edifícios. Mohiliov já falou ao telefone com o grupo, mas não lhe
foram transmitidas quaisquer reivindicações.
O ministro interino do Interior, Arsen Avakov, anunciou ter
posto a polícia em alerta para evitar “um banho de sangue entre a população
civil”. “Os provocadores estão em marcha. É tempo para responder com cabeça
fria”, escreveu Avakov na sua página de Facebook. Há forças de segurança em
redor dos edifícios tomados.
Diplomacias ocidentais avisam Rússia
A ocupação dos edifícios do governo da Crimeia pode desencadear
um conflito regional, avisa o ministro dos Negócios Estrangeiros da Polônia.
“Isto é um desenvolvimento drástico e aviso os que o fizeram e os que o
permitiram, é assim que começam os conflitos regionais. Este é um jogo muito
perigoso”, disse Radoslaw Sikorski numa conferência de imprensa.
Londres considera que as movimentações militares russas são
prejudiciais "num momento em que todas as partes, sejam nacionais ou
internacionais, deveriam trabalhar para desarmar as tensões". O Ministério
dos Negócios Estrangeiros britânico acrescentou que "a instabilidade na
Ucrânia não é do interesse de ninguém".
A ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, também manifestou a
sua preocupação. “O mais importante é evitar a divisão da Ucrânia”, disse, à
chegada a uma reunião da NATO em Bruxelas onde se vai debater precisamente a
situação ucraniana.
Em antecipação à reunião da aliança, o secretário-geral da NATO,
Anders Fogh Rasmussen, apelou à Rússia "para não tomar qualquer ação que
possa fazer escalar a tensão ou criar desentendimentos". "Estou
preocupado com os desenvolvimentos na Crimeia", afirmou Rasmussen através
do Twitter.
Nenhum comentário:
Postar um comentário