A Crimeia votou como se esperava que votasse. Estaremos a caminho de uma nova Guerra Fria?
Nos primeiros dias de Março foi colocado junto à
estátua de Lenin, no centro de Sinferopol, capital da Crimeia, o
seguinte dístico: “Não toquem no nosso chefe.” Não tocaram. Pelo
contrário. Do alto da sua imponente estátua, situada na praça que também
leva o seu nome, o histórico líder soviético assistiu impávido ao
agitar de bandeiras russas e de bandeiras vermelhas com a foice e o
martelo a celebrar o referendo onde uma grande maioria de votantes disse
“sim” à integração na Rússia. Em Kiev, em Dezembro de 2013, Lenin teve
pior sorte: a sua estátua foi furiosamente derrubada. Por isso também
se manteve esta intacta e se consumou (pelo menos no desejo expresso num
referendo ilegal e incontrolado) o regresso da Crimeia à “grande mãe”
Rússia.
Nada disto foi novidade, nem sequer o júbilo expresso nas
ruas, ou a celebração mais do que antecipada (horas antes do fecho das
urnas) de uma vitória previsível. Na entrevista que concedeu a Teresa de
Sousa, publicada na edição de ontem, o investigador francês Jacques
Rupnik disse claramente: “Não há qualquer meio, nem para a Europa nem
para os Estados Unidos, de impedir a integração da Crimeia na Rússia.” E
se, como Rupnik também disse, “a Europa se construiu contra a
geopolítica”, é a geopolítica que não só a Europa mas o mundo, em
particular os Estados Unidos, têm agora pela frente no caso da Crimeia.
As promessas de sanções, que voltaram a fazer-se ouvir, só surtirão
efeito se com elas se pretender atingir um fim óbvio. E está à vista que
só muito dificilmente este será a “devolução” da Crimeia, por mais que a
Ucrânia a reclame (baseada na lei e em tratados de delicada elaboração
internacional). Ao contrário, se tais sanções servirem para coisa
nenhuma, haverá um impasse e o regresso, com novos contornos, da velha
Guerra Fria. John Kerry dizia, há dias, que a porta da diplomacia
continuava aberta. Pois é tempo ainda de usá-la, para evitar males
piores para todos.
Nota pertinente:
Há uma incógnita falsa nesta equação:
A população da Criméia é constituida por 58% de russos, 24% de ucranianos e 13% de tártaros da Criméia.
Como foi possível o plebiscito superar 95% pró-Rússia?
O Redator.
Tenho acompanhando seu blog já faz alguns meses e devo lhe dar os parabéns por toda a dedicação e esmero em mantê-lo sempre atualizado com postagens de qualidade!
ResponderExcluirSobre o tema, acredito que o que ocorreu, é que os ucranianos e tártaros que vivem na Criméia, tinham por sí a ideia de boicotar o referendo e portanto, não votaram massivamente como ato de protesto. Disso resultou um número tão absurdo de adesões à Rússia, pois lamentavelmente, apenas pró-russos e russófilos votaram.