Sondagens à boca das urnas antecipam vitória de 93% à integração da província na Federação Russa.
Cerca de 93% dos eleitores da península ucraniana da Crimeia votaram a
favor de uma união com a Rússia, segundo sondagens à boca das urnas
citadas pela agência russa RIA, meia hora depois de terem fechado as
urnas. Outra agência russa, a Interfax, falava de uma taxa de
participação de 80% no referendo, considerado ilegal pela Ucrânia,
Estados Unidos e União Europeia.
Antecipando um resultado favorável à secessão da Ucrânia, a União Europeia preparava-se já para aprovar, segunda-feira, sanções dirigidas a pessoas concretas.
Os
eleitores, milhão e meio, foram convidados a escolher entre a
integração na Federação da Rússia e uma autonomia mais alargada no seio
da Ucrânia. Apoiada pelo Governo de Moscou, a consulta eleitoral foi
organizada pelas autoridades pró-russas locais num tempo recorde de duas
semanas. A votação decorre sem a presença de observadores independentes
ou jornalistas locais.
Mais de seis horas após a abertura das
urnas, fontes oficiais disseram à BBC que a participação tinha já
ultrapassado 50% dos inscritos.
Ninguém acredita que o referendo,
que o Governo de Kiev e os países ocidentais consideram violar a
Constituição ucraniana, seja desfavorável à separação da Ucrânia, devido
ao peso maioritário dos russófonos na população - 58,5%, segundo os
censos de 2001. A votação é boicotada pela população tártara.
“Vim
votar neste dia de festa para benefício da Crimeia e dos seus
habitantes e agora vou celebrar”, disse à Reuters Vladimir, um eleitor
dos seus 40 anos, depois de votar num escola na região de Simferopol, a
capital.
As perguntas feitas aos eleitores prevêem duas hipóteses –
a primeira é a secessão e reunificação com a Rússia, a segunda o
regresso à Constituição de 1992, que permite maior autonomia e dá poder
aos órgãos regionais para escolherem o seu rumo. Também esta daria a
hipótese aos novos líderes de optarem por uma integração com a Rússia.
Apenas a hipótese de manter a Crimeia com o seu estatuto atual (com
autonomia mas na Ucrânia) não era prevista nesta consulta, sublinharam
analistas.
As urnas abriram às 8h00 locais (6h00 em Portugal Continental) e encerraram 12 horas mais tarde.
O
Presidente russo, Vladimir Putin, disse que “respeitará a escolha dos
habitantes da Crimeia”. A declaração consta de um comunicado do Kremlin,
que dá conta de uma conversa telefônica de Vladimir Putin com Angela
Merkel, a pedido da chanceler alemã.
Bem diferente é a forma como a
União Europeia olha para o referendo. Já este domingo, insistiu em
classificá-lo como “ilegal e ilegítimo” e confirmou que o resultado “não
será reconhecido”. Numa declaração conjunta, os presidentes do Conselho
Europeu, Herman Van Rompuy, e da Comissão Europeia, Durão Barroso,
condenaram a consulta eleitoral e anunciaram que, na segunda-feira, os
ministros europeus dos Negócios Estrangeiros discutirão em Bruxelas a
possibilidade de sanções, nos termos de uma declaração de chefes de
Estado e de governo tomada a 6 de Março.
Nesse dia, os dirigentes
europeus chegaram a acordo sobre a aplicação de sanções dirigidas a
pessoas específicas, sob a forma de congelamento de bens e restrição de
vistos, se a Rússia não promovesse com rapidez uma “desescalada” de
tensão.Os embaixadores da UIE devem reunir-se ainda este domingo para
definir uma lista de responsáveis russos e ucranianos pró-russos visados
pelas sanções, noticiou a AFP.
Ucrânia denuncia reforço militar russo
Já com as urnas abertas, o ministro interino da Defesa da Ucrânia, Ihor Teniukh, disse que a Rússia continua a reforçar a sua presença militar na Crimeia e tem agora 22.000 soldados na região – um número largamente superior ao limite de 12.500 previstos nos acordos sobre a permanência na região da frota russa do Mar Negro.
Já com as urnas abertas, o ministro interino da Defesa da Ucrânia, Ihor Teniukh, disse que a Rússia continua a reforçar a sua presença militar na Crimeia e tem agora 22.000 soldados na região – um número largamente superior ao limite de 12.500 previstos nos acordos sobre a permanência na região da frota russa do Mar Negro.
“Infelizmente, num curto
período de tempo, esses 12.500 aumentaram para 22.000. É uma brutal
violação dos acordos bilaterais e uma prova de que a Rússia trouxe
ilegalmente tropas para o território da Crimeia”, disse Teniukh, numa
entrevista à agência Interfax. “As forças armadas ucranianas estão a
tomar as medidas adequadas ao longo das fronteiras a sul”, acrescentou.
Desde
que Viktor Yanukovych foi afastado da presidência da Ucrânia pelo
Parlamento, em Fevereiro, após meses de contestação na rua, soldados
russos assumiram o controlo efetivo da Crimeia.
A AFP noticiou
entretanto que manifestantes pró-russos invadiram este domingo as sedes
do ministério público e dos serviços de segurança ucranianos em Donetsk,
cidade russófona do leste da Ucrânia, após uma manifestação favorável à
integração.Os manifestantes entraram nos dois edifícios praticamente
sem terem enfrentado oposição das forças de segurança. Reclamam a
libertação do seu líder, o auto-proclamado “governador” Pavlo Goubarev.
Pouco depois, a BBC noticiou que tinham abandonado a sede dos serviços
de segurança.
No relato da conversa entre Putin e Merkel feito
pelo governo de Berlim é dito que chanceler afirmou que devem ser
enviados para a Ucrânia mais observadores da OSCE (Organização para a
Segurança e Cooperação Europeia) e que a intenção foi bem acolhida pelo
chefe de Estado russo. Merkel, acrescentou o Governo alemão, condenou a
infiltração – denunciada no sábado pela Ucrânia – de militares russos na
região de Khertson, adjacente à Crimeia, no Sudeste da Ucrânia.
O
governo de Moscovo anunciou também que o ministro russo dos Negócios
Estrangeiros, Sergei Lavrov, e o secretário de Estado dos EUA, John
Kerry, concordaram, também este domingo, em procurar uma solução para a
crise ucraniana através de reformas constitucionais. Mas não foram dados
pormenores sobre essas reformas, tendo apenas sido dito que deverão ser
“aceitáveis” e ter em conta os interesses de “todas as regiões da
Ucrânia”.
Segundo o Departamento de Estado norte-americano, Kerry
reafirmou a Putin o entendimento de que o referendo é ilegal e que os
EUA não reconhecerão o seu resultado.E que foi pedido à Rússia que apoie
as reformas constitucionais que a Ucrânia pretende fazer e faça
regressar os seus militares às bases.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou ao jornal Komsomolskaia Pravda
que, apesar das críticas dos países industrializados que fazem parte do
G8, a Rússia não vê razões para alterar a sua política externa.
Os
comandantes das forças russas e ucranianas na península da Crimeia
chegaram, também este domingo, a um acordo sobre o movimento de navios. A
Rússia, que tinha bloqueado a entrada e saída de navios ucranianos (e o
acesso às bases), comprometeu-se a deixar de o fazer... mas só até
sexta-feira 21 de Março. O anúncio do acordo foi feito pelo ministro
ucraniano Igor Teniukh.O bloqueio estava a impedir o abastecimento que,
pelo menos durante alguns dias, poderá ser retomado.
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